O mosteiro de Hang
Quando acordei, estava em meu quarto, deitada na cama. Uma das servas
cuidava de mim.
Perguntei por Esmeranda. Responderam-me que velava o corpo do filho.
Perguntei por Gregoriska. Responderam-me que estava no mosteiro de
Hango.
Não fazia mais sentido fugir. Kostaki não estava morto? Muito menos casar.
Poderia eu casar com o fratricida?
Três dias e três noites passaram-se em meio a sonhos estranhos. Em minha
vigília ou em meu sono, via sempre aqueles dois olhos vivos no meio do rosto
morto: era uma visão horrível.
Na manhã do terceiro dia, quando deveria acontecer o enterro de Kostaki,
trouxeram-me, da parte de Esmeranda, um traje completo de viúva. Vesti-me e
desci.
O castelo parecia vazio. Estavam todos na capela.
Dirigi-me ao local da cerimônia. Na entrada, Esmeranda, que fazia três dias
eu não via, veio em minha direção.
Era a imagem da Dor. Com um movimento lento como o de uma estátua,
pousou seus lábios gelados na minha testa e, com uma voz que parecia já vir do
túmulo, pronunciou as mesmas palavras:
— Kostaki ama Hedwige.
Os senhores não podem fazer ideia do efeito que tais palavras produziram em
mim. Aquela declaração de amor feita no presente em vez de no passado; aquele
a ama, em vez de a amava; aquele amor de além-túmulo, imiscuindo-se no
mundo dos vivos, causou-me uma impressão terrível.
Ao mesmo tempo, uma estranha sensação se apoderava de mim, como se eu
tivesse sido efetivamente esposa do defunto, e não noiva do que ainda vivia.
Aquele caixão me atraía, contra a minha vontade, dolorosamente, como a
serpente atrai o pássaro que ela fascina. Procurei Gregoriska com os olhos.
Avistei-o, pálido e de pé, recostado numa coluna. Seus olhos estavam longe. Não
posso dizer se me viu.
Os monges do convento de Hango rodeavam o corpo, entoando cânticos do
ritual grego, às vezes tão harmoniosos, em geral tão monótonos. Eu também
queria rezar, mas a prece morria em meus lábios. Estava de tal forma abalada
que me parecia assistir antes a uma assembleia de demônios que a uma reunião
de padres.
No momento em que levaram o corpo, fiz menção de segui-lo, mas minhas
forças recusaram-se a me obedecer. Senti minhas pernas faltarem e me apoiei
na porta. Esmeranda veio em minha direção e fez um sinal para Gregoriska.
Gregoriska obedeceu e se aproximou.
Esmeranda dirigiu-se a mim em língua moldávia.
— Minha mãe me ordena que lhe repita palavra por palavra de seu
pronunciamento — disse Gregoriska.
Esmeranda retomou a palavra. Quando ela terminou, ele disse:
— Eis as palavras de minha mãe: “Você chora meu filho, Hedwige, você o
ama, não é verdade? Sou-lhe grata por suas lágrimas e seu amor. Doravante você
é minha filha como se Kostaki tivesse sido seu esposo. Agora você tem pátria,
mãe e família. Vertamos a soma de lágrimas que devemos aos mortos e
voltemos ambas a ser dignas daquele que não existe mais… eu, sua mãe, você
sua mulher! Adeus, volte para nossa casa. Seguirei meu filho à sua última
morada. Quando retornar, me trancarei com a minha dor e só me verá quando a
houver vencido. Não se preocupe, irei matá-la, pois não desejo que ela me
mate.”
Não pude responder a essas palavras de Esmeranda, traduzidas por
Gregoriska, senão com um gemido.
Subi ao meu quarto, o comboio se afastou. Vi-o desaparecer na curva do
caminho. Embora o convento de Hango distasse apenas dois quilômetros do
castelo em linha reta, os acidentes do solo obrigavam a estrada a desviar,
demandando cerca de duas horas para alcançá-lo.
Estávamos no mês de novembro. Os dias tornavam a ser mais curtos e frios.
Às cinco da tarde, era noite fechada.
Por volta das sete horas, vi as tochas reaparecerem. Era o cortejo fúnebre
que retornava. O cadáver repousava no túmulo de seus antepassados. Estava tudo
dito.
Já lhes falei da estranha obsessão que me atormentava desde o fatal e
pesaroso acontecimento e, sobretudo, desde que eu vira reabertos e fixos em
mim os olhos que a morte fechara. Aquela noite, prostrada pelas emoções do dia,
eu estava ainda mais triste. Escutava soarem as diferentes horas no relógio do
castelo, entristecendo à medida que o tempo transcorrido me aproximava do
provável instante em que Kostaki morrera.
O relógio tocou, eram quinze para as nove.
Foi quando uma sensação estranha se apoderou de mim. Era um terror de
arrepiar que percorria todo o meu corpo, congelando-o. E esse mesmo terror
inspirava alguma coisa como um sono invencível, que entorpecia meus sentidos.
Meu peito ficou apertado, meus olhos se embaçaram, estendi os braços e fui
recuando até cair na cama.
Contudo, meus sentidos ainda bastaram para eu perceber o que me pareceu
serem passos se aproximando de minha porta. Em seguida, julguei ver a porta se
abrindo. Então não vi nem ouvi mais nada.
Senti apenas uma dor lancinante no pescoço.
Mergulhei instantaneamente numa letargia absoluta.
À meia-noite, despertei, minha lamparina ainda ardia. Quis me levantar, mas
estava tão fraca que não consegui da primeira vez. Terminei por vencer a
fraqueza, mas como, desperta, eu continuava a sentir no pescoço a mesma dor
que sentira dormindo, arrastei-me até o espelho, apoiando-me na parede, e me
examinei.
Algo parecido com uma espetadela de alfinete marcava a artéria de meu
pescoço.
Supus que algum inseto me houvesse mordido durante o sono. Como estava
morta de cansaço, deitei e dormi.
No dia seguinte, acordei normalmente. Como de costume, quis me levantar
tão logo meus olhos se abriram, mas senti uma fraqueza que só sentira uma vez
na vida: no dia seguinte àquele em que eu fora submetida a uma sangria.118
Fui ao espelho e fiquei impressionada com minha palidez.
O dia transcorreu triste e melancólico. Era uma sensação estranha: onde eu
estava, precisava ficar; qualquer deslocamento era um sacrifício.
Anoiteceu, trouxeram-me uma lamparina. Minhas servas, ao menos foi o que
depreendi de seus gestos, ofereciam-me companhia. Agradeci; elas saíram.
Na mesma hora da véspera, senti os mesmos sintomas. Quis me levantar,
chamar por socorro, mas não consegui alcançar a porta. Ouvi vagamente o
timbre do relógio dando quinze para as nove, os passos ressoaram, a porta se
abriu. Mas eu não via nem ouvia mais nada. Como na véspera, desabei
completamente na cama.
Como na véspera, senti uma dor aguda no mesmo lugar.
Como na véspera, acordei à meia-noite, porém mais fraca e mais pálida.
No dia seguinte, a horrível obsessão se repetiu.
Eu estava decidida a descer para junto de Esmeranda, por mais fraca que me
sentisse, quando uma das mulheres entrou no quarto e pronunciou o nome de
Gregoriska.
Gregoriska vinha atrás dela.
Quis me levantar para recebê-lo, mas caí novamente na poltrona.
Ao me ver, ele deu um grito e fez menção de correr para mim, mas tive
forças para estender-lhe o braço.
— O que vem fazer aqui? — perguntei.
— Que tristeza! — ele exclamou. — Vinha lhe dizer adeus! Vinha lhe dizer
que deixo este mundo, pois ele me é insuportável sem o seu amor e sem a sua
presença. Vinha lhe dizer que me retiro para o mosteiro de Hango.
— Minha presença lhe foi subtraída, Gregoriska — respondi —, mas meu
amor, não. Ai! Continuo a amá-lo, e minha grande dor é que agora esse amor
seja quase um crime.
— Posso então ter esperanças de que rezará por mim, Hedwige?
— Sim, mas não rezarei por muito tempo — acrescentei, com um sorriso.
— O que há com você, e por que essa palidez?
— Eu… Deus tenha piedade de mim, sem dúvida ele me chama!
Gregoriska aproximou-se, pegou uma de minhas mãos, que não tive forças
para lhe negar e, olhando-me fixamente, disse:
— Essa palidez não é natural, Hedwige. De onde ela vem? Fale.
— Se eu falasse, Gregoriska, você acharia que enlouqueci.
— Não, não, fale, Hedwige, eu lhe suplico. Este é um país diferente de todos
os outros, esta é uma família diferente de todas as outras. Fale, fale tudo, eu lhe
suplico.
Contei-lhe tudo: aquela estranha alucinação que me arrebatava precisamente
na hora provável da morte de Kostaki; aquele terror, o torpor, o frio de gelo, a
prostração que me prendia na cama, o barulho que eu julgava ouvir, a porta que
eu julgava ver se abrindo, finalmente a dor aguda seguida por uma palidez e uma
fraqueza cada vez maiores.
Eu julgara que Gregoriska veria meu relato como um início de loucura, e por
isso ia terminando-o com certa timidez, quando, ao contrário, percebi que ele lhe
dedicava uma atenção profunda.
Quando parei de falar, ele refletiu por um instante.
— Quer dizer — ele perguntou — que você dorme todas as noites às quinze
para as nove?
— Sim, por mais que me esforce para ficar acordada.
— Pensa ver a porta se abrindo?
— Sim, embora eu a tranque com o ferrolho.
— E sente uma dor aguda no pescoço?
— Sim, embora meu pescoço mal conserve marca de ferimento.
— Permite que eu veja? — ele perguntou.
Deitei a cabeça de lado.
Ele examinou a cicatriz.
— Hedwige — ele disse após um instante —, confia em mim?
— Ainda uma pergunta? — respondi.
— Acredita na minha palavra?
— Como nos santos Evangelhos.
— Pois bem! Acredite em mim, Hedwige, juro que não tem oito dias de vida
se não consentir em fazer, hoje mesmo, o que lhe direi.
— E se consentir?
— Se consentir, talvez tenha salvação.
— Talvez?
Ele se calou.
— Aconteça o que acontecer, Gregoriska — prossegui —, farei o que me
ordenar.
— Ótimo! Escute e, sobretudo, não se assuste. Em seu país, como na Hungria,
como na nossa Romênia, vigora uma tradição.
Senti um calafrio, pois aquela tradição me voltara à memória.
— Ah! — ele percebeu. — Sabe do que estou falando?
— Sim — respondi —, na Polônia vi pessoas submetidas a essa horrível
fatalidade.
— Refere-se a vampiros, não é?
— Sim, na minha infância, no cemitério de uma aldeia pertencente a meu
pai, assisti à exumação de quarenta pessoas, mortas num intervalo de quinze dias
sem que se pudesse determinar a causa. Dentre esses mortos, dezessete
apresentaram todos os sinais de vampirismo, isto é, foram encontrados frios,
vermelhos e parecendo estar vivos. Os demais eram aqueles a quem haviam
atacado.
— E o que foi feito para libertar a região?
— Cravaram uma estaca no coração deles todos e depois os queimaram.
— É, é assim que agimos normalmente. Mas, em nosso caso, isso não basta.
Para libertá-la de um vampiro, primeiro tenho de saber quem ele é, e, juro por
Deus!, eu saberei. Sim, e se for preciso, lutarei corpo a corpo com ele, seja
quem for.
— Oh, Gregoriska! — exclamei, assustada.
— Eu disse: seja quem for, e repito-o. Porém, para levar a bom termo essa
terrível aventura, terá de cumprir todas as minhas exigências.
— Fale.
— Esteja pronta às sete horas, desça até a capela, desça sozinha. Tente
vencer a fraqueza, Hedwige, é preciso. Lá receberemos a bênção nupcial.
Consinta, minha bem-amada. Para defendê-la, é necessário que, perante Deus e
os homens, eu tenha o direito de protegê-la. Então, voltaremos para cá e
veremos.
— Oh, Gregoriska — exclamei —, se for ele, ele o matará!
— Nada tema, querida Hedwige. Apenas consinta.
— Sabe muito bem que farei tudo que desejar, Gregoriska.
— Até a noite, então.
— Sim, faça o que desejar de sua parte, e eu darei o melhor de mim para
apoiá-lo. Vá.
Ele saiu. Quinze minutos depois, vi um cavaleiro a trotar pela estrada do
mosteiro, era ele!
Mal o perdi de vista, caí de joelhos e rezei, como não se reza mais nos países
descrentes dos senhores, e esperei as sete horas, oferecendo a Deus e aos santos
o holocausto de meus pensamentos. Só me reergui ao toque das sete horas.
Sentia-me fraca como uma moribunda, pálida como uma morta. Envolvi
minha cabeça num grande véu negro, desci a escada, escorando-me nas
paredes, e me dirigi à capela, sem encontrar ninguém pelo caminho.
Gregoriska me esperava com o padre Basílio, superior do convento de Hango.
Trazia na cintura uma espada sagrada, relíquia de um velho cruzado que
conquistara Constantinopla com Villehardouin e Balduíno de Flandres.119
— Hedwige — disse ele, batendo com a mão na espada —, com a ajuda de
Deus, eis quem irá quebrar o feitiço que ameaça sua vida. Aproxime-se com
determinação, aqui está o santo homem que, após ouvir minha confissão,
receberá nossos juramentos.
A cerimônia teve início. Talvez nunca tenha existido outra tão simples e
solene. Ninguém auxiliava o pope.120 Ele mesmo pôs em nossas cabeças as
tiaras nupciais. Ambos trajando luto, demos a volta no altar com um círio nas
mãos. Em seguida, tendo pronunciado as palavras sagradas, o religioso
acrescentou:
— Agora vão, meus filhos, e que Deus lhes dê força e coragem para lutar
contra o inimigo do gênero humano. Suas armas são a inocência e a justiça:
vocês vencerão o demônio. Vão, e que Deus os abençoe.
Beijamos os livros sagrados e saímos da capela.
Então, pela primeira vez, apoiei-me no braço de Gregoriska e, ao tocá-lo, ao
sentir aquele braço valente, ao entrar em contato com aquele nobre coração,
pareceu-me que a vida retornava às minhas veias. Julguei ter certeza de um
triunfo, pois Gregoriska estava comigo. Subimos ao meu quarto.
O toque das oito e meia soou.
— Hedwige — disse-me então Gregoriska —, não temos tempo a perder.
Você gostaria de dormir como sempre, e que tudo aconteça durante o seu sono,
ou de permanecer acordada e a tudo assistir?
— Ao seu lado, nada temo, desejo permanecer acordada e ver tudo.
Gregoriska tirou de seu peito um ramo de buxo, ainda úmido de água benta,
entregando-o a mim.
— Pegue esse ramo — ele me instruiu —, deite-se na cama, recite suas
preces à Virgem e espere sem medo. Deus está conosco. É imperioso que não
deixe o ramo cair. Com ele, o próprio inferno obedecerá à sua autoridade. Não
chame ninguém, não grite. Reze, não perca a esperança e aguarde.
Deitei-me na cama. Cruzei as mãos sobre o peito, apertando meu ramo
bento.
Gregoriska escondeu-se atrás do pálio de madeira que mencionei
anteriormente e que cobria um dos ângulos do quarto.
Contei os minutos e Gregoriska, sem dúvida, também os contava do seu lado.
Enfim soou o toque de quinze para as nove.
A reverberação do martelo ainda ecoava quando senti o mesmo torpor, o
mesmo terror, o mesmo frio glacial. Aproximando o ramo bento de meus lábios,
essa primeira sensação se dissipou.
Ouvi então, muito distintamente, ecoando na escada e se aproximando da
porta, o rumor daquele passo lento e cadenciado.
Em seguida, a porta se abriu lenta, silenciosamente, como se empurrada por
uma força sobrenatural. Foi quando…
A voz da narradora emudeceu como se estrangulada na garganta.
— Foi quando — ela continuou com um esforço — percebi Kostaki, pálido
como eu o vira na padiola. Seus longos cabelos pretos, espalhados sobre os
ombros, gotejavam sangue. Usava seu traje de sempre, salvo que estava aberto
no peito, revelando a chaga vermelha.
Tudo era morte, tudo era cadavérico… a carne, as roupas, o andar… apenas
os olhos, aqueles olhos terríveis, estavam vivos.
Diante de tal visão, coisa estranha!, em vez de sentir terror redobrado, senti
minha coragem aumentando. Era sem dúvida uma graça de Deus, para que eu
pudesse avaliar minha situação e me defender contra o inferno. Ao primeiro
passo que o vampiro deu na direção da cama, eu temerariamente cruzei meu
olhar com o seu, de chumbo, e mostrei-lhe o ramo abençoado.
O espectro tentou avançar, mas um poder mais forte que o seu pregou-o no
lugar. Ele estacou:
— Oh — murmurou —, ela não está dormindo, ela sabe de tudo.
Embora ele falasse em moldávio, eu ouvia suas palavras como se
pronunciadas numa língua que eu compreendesse.
Eu e o vampiro nos encarávamos sem que meus olhos pudessem se
desprender dos seus, quando então vi, sem necessidade de virar a cabeça para o
lado, Gregoriska sair da estala de madeira qual o anjo exterminador empunhando
sua espada. Ele fez o sinal da cruz com a mão esquerda e avançou lentamente
apontando a espada para o vampiro. Este, reagindo ao aspecto ameaçador do
irmão, puxou seu sabre, soltando uma terrível gargalhada, mas, tão logo o sabre
tocou o ferro abençoado, o braço do vampiro interrompeu a luta e ficou inerte
junto a seu corpo.
Kostaki soltou o ar em seu peito, cheio de luta e desespero.
— O que você quer? — perguntou ao irmão.
— Em nome de Deus — disse Gregoriska —, intimo-o a responder.
— Fale — disse o vampiro, rilhando os dentes.
— Fui eu que o esperei?
— Não.
— Fui eu que o ataquei?
— Não.
— Fui eu que o golpeei?
— Não.
— Você se atirou sobre a minha espada, eis a verdade. Logo, aos olhos de
Deus e dos homens, não sou culpado do crime de fratricídio. Logo, você não
recebeu uma missão divina, mas infernal. Logo, você saiu do túmulo não como
uma sombra sagrada, mas como um espectro maldito, e para lá retornará.
— Junto com ela, sim! — bradou Kostaki, fazendo um esforço supremo para
me agarrar.
— Sozinho — gritou por sua vez Gregoriska. — Esta mulher me pertence.
E, pronunciando estas palavras, tocou a chaga viva com a ponta do ferro
abençoado.
Kostaki deu um grito como se um gládio de fogo o tivesse golpeado. Levando
a mão esquerda ao peito, deu um passo atrás.
Ao mesmo tempo, e com um movimento que parecia encadeado ao seu,
Gregoriska deu um passo à frente. Então, olhos nos olhos com o morto, a espada
no peito do irmão, teve início uma marcha lenta, terrível, solene. Algo que
evocava a passagem de don Juan e o comendador:121 o espectro recuando
diante do gládio sagrado, da vontade irresistível do paladino de Deus, enquanto
este seguia-o passo a passo sem pronunciar palavra, ambos ofegantes, ambos
lívidos, o vivo empurrando o morto à sua frente e obrigando-o a trocar o castelo
que fora sua morada no passado pelo túmulo que seria sua morada no futuro.
Algo que evocava a passagem de don Juan e o comendador: o espectro recuando
diante do gládio sagrado, da vontade irresistível do paladino de Deus.
Oh, era terrível de ver, juro.
E, contudo, movida por uma força superior, invisível, desconhecida, sem me
dar conta do que fazia, levantei-me e segui-os. Descemos a escada, iluminados
apenas pelas pupilas ardentes de Kostaki. Passamos a galeria e o pátio.
Transpusemos a porta no mesmo passo cadenciado, o espectro recuando de
costas, Gregoriska com o braço estendido, e eu atrás.
A incursão fantástica durou uma hora. Era preciso reconduzir o morto a seu
túmulo. Porém, em vez de tomarem o caminho de costume, Kostaki e Gregoriska
haviam atravessado o terreno numa linha reta, pouco se preocupando com os
obstáculos, que haviam deixado de existir. Sob seus pés o solo se aplainava, as
torrentes secavam, as árvores recuavam, as rochas se abriam. O mesmo milagre
operava-se comigo, com a diferença de que todo o céu parecia-me coberto por
uma fumaça negra, a lua e as estrelas haviam desaparecido e eu continuava a
ver brilhar na noite apenas os olhos de fogo do vampiro.
Chegamos assim a Hango e atravessamos a sebe de arbustos que protegia o
cemitério. Tão logo entrei, discerni na penumbra o túmulo de Kostaki instalado ao
lado do de seu pai. Eu ignorava sua localização, mas o reconheci.
Naquela noite eu sabia tudo.
À beira da sepultura aberta, Gregoriska se deteve.
— Kostaki — disse ele —, nem tudo terminou para você, e uma voz do céu
me diz que será perdoado caso se arrependa. Promete voltar ao túmulo, promete
não tornar a sair, promete, enfim, dedicar a Deus o culto que dedicou ao inferno?
— Não! — desafiou Kostaki.
— Arrepende-se? — perguntou Gregoriska.
— Não!
— Pela última vez, Kostaki!
— Não!
— Muito bem! Invoque Satanás em seu auxílio, eu invocarei Deus, e veremos
a quem caberá a vitória!
Dois gritos ressoaram ao mesmo tempo. Os ferros cruzaram-se, produzindo
faíscas, e o combate durou um minuto que me pareceu um século.
Kostaki caiu. Vi erguer-se a espada terrível, vi-a penetrar em seu corpo e
cravá-lo na terra recém-revolvida.
Um grito supremo, que nada tinha de humano, atravessou os ares.
Acorri.
Gregoriska permanecera de pé, vacilante.
Arrojei-me e o escorei pelos braços.
— Está ferido? — perguntei, com ansiedade.
— Não — ele respondeu —, mas num duelo desse tipo, querida Hedwige, não
é o ferimento que mata, é a luta. Lutei com a morte, à morte pertenço.
— Querido! Querido! — exclamei. — Afaste-se, deixe este lugar, a vida
talvez lhe renasça.
— Não — ele disse —, eis o meu túmulo, Hedwige. Mas não percamos
tempo. Pegue um pouco dessa terra impregnada do meu sangue e aplique-a
sobre a mordida que ele lhe deu. É o único meio de protegê-la de seu horrível
amor no futuro.
Obedeci, trêmula. Abaixei para recolher a terra ensanguentada e, ao me
abaixar, vi o cadáver pregado no solo. A espada abençoada varava-lhe o coração
e um sangue negro e abundante saía do ferimento, como se ele acabasse de
morrer naquele instante.
“Um beijo! O último, o único, Hedwige! Estou morrendo.”
Modelei um pouco de terra com sangue e apliquei o medonho talismã no
ferimento.
— Agora, adorada Hedwige — disse Gregoriska, com uma voz enfraquecida
—, ouça bem minhas últimas instruções: deixe o país assim que puder. A distância
é sua única segurança. O padre Basílio recebeu hoje minhas vontades supremas
e as fará cumprir. Hedwige! Um beijo! O último, o único, Hedwige! Estou
morrendo.
E, dizendo tais palavras, Gregoriska tombou ao lado do irmão.
Em qualquer outra circunstância, junto àquela sepultura aberta, com aqueles
dois cadáveres deitados lado a lado, eu teria enlouquecido, mas, já lhes disse,
Deus infundira em mim uma força igual à dos acontecimentos dos quais me
fazia não apenas testemunha, mas também protagonista.
No momento em que eu observava à minha volta, procurando algum socorro,
vi a porta do claustro abrir-se e os monges, encabeçados pelo padre Basílio,
avançarem dois a dois, carregando tochas acesas e cantando as preces dos
mortos.
O padre Basílio acabava de chegar ao mosteiro. Previra o que havia
acontecido e, à frente de toda a comunidade, dirigia-se ao cemitério.
Encontrou-me viva junto aos dois mortos.
Kostaki apresentava o rosto desfigurado por uma última convulsão.
Gregoriska, ao contrário, estava calmo e quase sorrindo.
Segundo suas recomendações, foi enterrado ao lado do irmão, o cristão
protegendo o maldito.
Esmeranda, ao saber daquele novo infortúnio e do papel que nele eu
representara, quis estar comigo. Veio encontrar-me no convento de Hango e
soube de minha boca tudo que acontecera naquela noite terrível.
Narrei-lhe em todos os detalhes a fantástica história, mas ela escutou como
Gregoriska me escutara, sem espanto, sem susto.
— Hedwige — respondeu ela, após um momento de silêncio —, por mais
estranho que seja o que acaba de me contar, você disse apenas a verdade pura. A
raça dos Brancovan foi amaldiçoada até a terceira e quarta gerações, e isso
desde que um Brancovan matou um padre. Mas o fim da maldição chegou, pois,
embora esposa, você é virgem, e comigo a linhagem se extingue. Se meu filho
lhe deu um milhão, aceite-o. Quando eu morrer, afora os legados piedosos que
pretendo fazer, você herdará o resto de minha fortuna. Agora siga o conselho de
seu esposo e volte o mais rápido possível para aqueles países onde Deus não
permite que esses terríveis prodígios aconteçam. Não preciso de ninguém para
chorar meus filhos comigo. Minha dor exige solidão. Adeus, não pergunte por
mim. Meu destino pertence apenas a mim e a Deus.
Beijando-me na testa como de costume, despediu-se e foi se enclausurar no
castelo de Brancovan.
Uma semana depois, parti para a França. Como Gregoriska previra, minhas
noites deixaram de ser frequentadas pelo terrível fantasma. Minha saúde
também se restabeleceu e, do episódio, preservei apenas a palidez mortal que
acompanha até o túmulo toda criatura humana que recebeu o beijo do vampiro.
A dama se calou, a meia-noite soou e eu quase ousaria dizer que o mais
corajoso de nós estremeceu ao som do pêndulo.
Era hora de encerrar a reunião. Despedimo-nos do sr. Ledru. Um ano depois,
esse excelente homem morreu.
É a primeira vez desde sua morte que me é dada a oportunidade de pagar
tributo ao bom cidadão, ao cientista modesto e, sobretudo, ao homem de caráter.
Apresso-me a fazê-lo.
Nunca mais voltei a Fontenay -aux-Roses.
Mas a lembrança dessa jornada deixou impressão tão profunda em minha
vida, essas histórias estranhas, que se haviam acumulado numa única noite,
escavaram um sulco tão profundo em minha memória, que, esperando despertar
nos outros o interesse que eu mesmo sentira, recolhi nos diferentes países que
venho percorrendo há dezoito anos, isto é, Suíça, Alemanha, Itália, Espanha,
Sicília, Grécia e Inglaterra, todas as tradições do gênero que os relatos dos
diferentes povos ressuscitaram no meu ouvido. Com elas compus esta coletânea,
que entrego aos meus fiéis leitores sob o título: 1001 fantasmas.
1. Nemrod: personagem bíblico, neto de Noé, designado como “valente caçador
perante o Eterno” no livro do Gênesis, 10, 9. Elzéar Blaze (1786-1848): oficial do
exército de Napoleão, caçador e apaixonado por cães, escreveu O caçador e os
cães apontadores e O caçador contador de histórias.
2. Villers-Cotterêts, na região da Picardia, norte da França, é a aldeia natal de
Alexandre Dumas.
3. Fazendeiro de uma aldeia próxima a Brassoire, citado por Alexandre Dumas
em sua autobiografia, Minhas memórias, de 1863.
4. Barreiras de Paris: postos de controle que fiscalizavam a entrada e a saída de
mercadorias e indivíduos do perímetro urbano parisiense. uma das mais
importantes, a barreira do Inferno, formada por dois pavilhões neoclássicos e
edificada a partir de 1787, subsiste ainda hoje e situa-se na praça DenfertRochereau
(antes rua d’Enfer).
5. Juliano o Apóstata (331-363): imperador romano especialmente ligado a Paris,
onde passou longas temporadas. O epíteto “apóstata” (“desertor”) deveu-se à sua
pretensão de restabelecer o paganismo em território romano, já dominado pelo
cristianismo. Lutécia: nome romano da futura cidade de Paris.
6. Tombe, em francês, significa “túmulo” ou “tumba”. Daí o nome Tombe-Issoire
para o lugar onde o bandoleiro está enterrado.
7. O Petit Montrouge, que abrange a parte norte de Montrouge, foi anexado a
Paris em 1860 e forma a parte sul do 14
o arrondissement, uma das vinte regiões
administrativas nas quais a cidade é dividida.
8. Personagem da mitologia grega condenado por Zeus ao martírio eterno nos
Infernos, preso a uma roda em chamas.
9. Alusão a gravuras da série Caprichos, do pintor espanhol Francisco Goy a
(1746-1828), em que feiticeiras roubam dentes dos enforcados para usar em suas
poções.
10. Mirante situado a 1.913 metros de altitude, no maciço do Mont Blanc.
11. A cidade italiana de Sorrento, na região de Nápoles, é famosa por seus
produtos cítricos.
12. Leviatã: monstro marinho mitológico, mistura de serpente e polvo, citado no
Antigo Testamento (Jó, 41) como um animal de estimação divino. Mais tarde, na
obra homônima do cientista político inglês Thomas Hobbes (1588-1679), será
usado como a metáfora do poder absoluto.
13. Jacques-Philippe Ledru (1754-1832), membro da Academia Francesa de
Medicina e filho de Nicolas Philippe Ledru, vulgo Comus (ver nota 42), foi
médico do rei, célebre em toda a Europa por seus experimentos no campo da
física.
14. Mestre Adão: trata-se de Adam Billaut (1602-62), marceneiro, poeta e
chansonnier, considerado o primeiro “poeta-operário”.
15. O dia 29 de julho de 1830, auge da chamada Revolução de Julho, é tido como
uma das “Três Jornadas Gloriosas” (27, 28 e 29 de julho), nas quais o povo
parisiense sublevou-se contra a monarquia de Carlos X (1757-1836) e instaurou
no poder uma nova dinastia, na pessoa do rei Luís Filipe d’Orléans (1773-1850).
16. Na realidade Jean-Baptiste Alliette (1738-91), ocultista francês, célebre por
ter popularizado um tipo de cartomancia baseada no tarô.
17. Conde de Cagliostro ou Giuseppe Balsamo (1743-95), aventureiro italiano que
frequentou a corte da França. Envolveu-se em casos misteriosos, como o do
colar de Maria Antonieta, no qual a rainha foi caluniada por golpistas que
encomendaram em seu nome um colar de 1,5 milhão de libras. Suspeito de
franco-maçonaria e ocultismo, foi deportado para a Itália, onde morreu na
prisão. Dumas transformou-o num dos protagonistas das Memórias de um
médico, ciclo de romances sobre a Revolução Francesa. Conde de Saint-Germain
(1707-84): outro aventureiro que frequentou assiduamente as cortes europeias,
em especial a da França. Declarava ter séculos de idade. Judeu Errante:
personagem lendário que remonta à Europa medieval e que não pode perder a
vida, pois perdeu a morte. Logo, vagueia pelo mundo, onde aparece de tempos
em tempos.
18. Pequena imprecisão: Alexandre Dumas nasceu em 1802.
19. Pirro: nome que alude ao rei grego Pirro I (318-272 a.C.), um dos primeiros
opositores do nascente Império Romano. Seu triunfo na batalha de Ausculum
(279 a.C.), na qual perdeu praticamente todo o seu exército, deu origem à
expressão “vitória de Pirro”, significando uma vitória apenas aparente. Na
ocasião, ele teria dito: “Se tivermos de vencer os romanos novamente, estamos
perdidos.”
20. O barbeiro de Sevilha e As bodas de Fígaro: comédias de Pierre-Augustine
Caron de Beaumarchais (1732-99), as quais serviram de base para os libretos das
operetas homônimas de Gioachino Rossini (1792-1868) e Wolfgang Amadeus
Mozart (1756-91), respectivamente.
21. Paul Scarron (1610-60), escritor francês, casou-se em 1652 com Françoise
d’Aubigné (1635-1719). Esta, nascida na prisão de Niort (onde seu pai cumpria
pena por dívidas), após enviuvar de Scarron, será amante e depois esposa do rei
Luís XIV, recebendo o título de marquesa de Maintenon. Fundou, em 1684, a
Maison Roy ale de Saint-Cy r, um internato feminino.
22. Mapa do país do amor, imaginado, em 1653, pela escritora francesa
Madeleine de Scudéry (1607-1701) e que exerceu grande influência sobre a
corrente preciosa, adepta de um estilo elegante e depurado, bem como do amor
idealizado.
23. Jovem mágica muçulmana, personagem do poema épico Jerusalém
libertada, do poeta italiano Torquato Tasso (1544-95), que aprisiona em seus
jardins, sítio de delícias, o cruzado Renaud.
24. Fundado em 1815, Le Constitutionnel começa como o jornal da oposição
liberal, tendo por inimigos declarados os jesuítas. Desempenhou um papel
importante na Revolução de 1830, apoiando o duque de Orléans, futuro rei Luís
Filipe (ver nota 15). Em seguida, tornou-se um órgão mais conservador.
25. O filósofo e teólogo Pedro Abelardo (1079-1142) foi o preceptor da jovem
Heloísa (1101-54), com quem se casou secretamente. Os amantes foram
separados pelo cônego Fulbert, tio de Heloísa, que a fez entrar para um convento
e mandou castrar Abelardo. Os dois deixaram uma importante correspondência
em latim, traduzida para o francês por Paul Lacroix (ver nota 32).
26. Ernst Theodor [Amadeus] Hoffmann (1776-1882): escritor romântico
alemão, criador do gênero fantástico, que iria influenciar toda a literatura
europeia do período, em especial a francesa. Para mais informações, ver o
anexo “O Arsenal” e a nota 6 de A mulher da gargantilha de veludo.
27. Henrique II (1519-59) reinou de 1549 a 1559 e Luís XV (1710-74), de 1715
até 1774.
28. Thot: deus egípcio do saber, inventor das fórmulas mágicas, da escrita e do
cálculo. Mistérios isíacos: nome dado ao culto à deusa-mãe egípcia Ísis.
29. Jacques Cazotte (1719-92), autor do célebre Diabo apaixonado (1772), é
considerado o criador da corrente fantástica francesa, tendo exercido especial
influência sobre Charles Nodier (ver a Apresentação a este volume e o anexo “O
Arsenal”). Morreu guilhotinado.
30. Larvas: na Roma antiga, fantasmas de pessoas assassinadas que voltavam
para assombrar os vivos.
31. Alexandre Lenoir (1761-1839), arqueólogo francês, lutou contra o
vandalismo revolucionário, sendo encarregado, pela Assembleia Constituinte de
1789, de salvaguardar as obras de arte, incluindo despojos de reis, então objeto
de saques e depredações. Nomeado curador do Patrimônio Nacional, criou o
Museu dos Monumentos Franceses, sediado, entre 1795 e 1816, no convento dos
Capuchinhos (ver também nota 51). um decreto de 24 de abril de 1816, já sob o
reinado de Luís XVIII (1755-1824), após a Restauração da monarquia, ordenou
que as obras fossem devolvidas a seus proprietários ou locais de origem.
32. Pseudônimo de Paul Lacroix (1806-84), romancista prolífico, na linha de
Walter Scott, que substituiu Nodier na biblioteca do Arsenal a partir de 1855. (Ver
anexo “O Arsenal”.) Foi colaborador de Dumas em diversos títulos, entre os
quais 1001 fantasmas e A mulher da gargantilha de veludo.
33. Edição princeps (em latim, “primeiro”) é a primeira edição impressa de um
livro.
34. Em alemão, “uma aparição”, “um fenômeno”.
35. Mármore de grande transparência, proveniente da ilha homônima, situada no
mar Egeu, muito apreciado por escultores gregos e romanos
36. Henrique III e sua corte, Christine em Fontainebleau e Antony: peças de
grande sucesso do jovem dramaturgo Alexandre Dumas, levadas ao palco,
respectivamente, em 1828, 1829 e 1831.
37. Marie-Anne-Charlotte de Corday d’Armont (1768-93), francesa que passará
à história como a assassina do médico e revolucionário francês Jean-Paul Marat
(1743-93), apunhalado na banheira de casa (ver nota 47).
38. Referência à “História de Sidi Numan”, contada por Sherazade ao sultão: “…
vi então Amina com um gul. Sua Majestade não ignora que os guls de ambos os
sexos são demônios que vagueiam pelos campos. Moram em geral em
escombros de casas, dos quais se lançam de surpresa sobre os passantes, a quem
matam e cuja carne comem. Na falta de passantes, vão aos cemitérios à noite
regalar-se com a carne dos mortos, a quem desenterram.”
39. Samuel Thomas Sömmering (1755-1830): médico anatomista, paleontólogo e
inventor alemão, cuja tese de medicina versou sobre os nervos cranianos. Entre
seus correspondentes, estiveram Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832),
Immanuel Kant (1724-1804) e Alexander von Humboldt (1769-1859). JeanJoseph
Sue (1760-1831): cirurgião, professor de anatomia e pai do célebre
romancista Eugène Sue (1804-57). Escreveu um ensaio sobre a dor que subsiste à
decapitação.
40. Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814), médico e político francês. Eleito
deputado constituinte em 1789, apresentou um projeto de lei prevendo que “a
decapitação fosse o único suplício adotado e que se procurasse uma máquina
capaz de substituir a mão do carrasco”. Aprovado em 6 de outubro de 1791, o
projeto vira lei, e, apesar dos protestos de Guillotin, a máquina, existente desde o
séc.XVI, ganha seu nome. Testada em três carneiros e depois em três cadáveres
humanos, em 15 de abril de 1792, a guilhotina fez sua estreia nove dias depois,
decapitando o ladrão Nicolas Jacques Pelletier (a multidão decepcionou-se com
a rapidez da execução).
41. Albrecht von Haller (1708-77), fisiologista e médico suíço que, além de
dedicar-se à anatomia, foi um grande poeta e crítico literário do Iluminismo.
42. Comus ou Nicolas-Philippe Ledru (1731-1807), físico e prestidigitador
francês, realizava apresentações de “física divertida” em seu consultório,
apresentando “a mulher-autômato, que se veste como o público pedir; uma
gaiola onde aparece o pássaro que se desejar; uma mão artificial que escreve o
pensamento dos espectadores” etc. Fez uma turnê pela Europa, exibindo-se como
“conde de Falkenstein”.
43. Alessandro Volta (1745-1827): físico italiano célebre por suas descobertas em
eletricidade, entre elas a pilha voltaica. Luigi Galvani (1737-98): médico e físico
italiano que tentou estabelecer os efeitos da corrente elétrica sobre os órgãos com
vistas à sua utilização terapêutica. Franz Anton Mesmer (1734-1815): médico
alemão, autor da controvertida teoria do “magnetismo animal”, que pressupunha
a existência de um fluido universal em cada organismo, transmissível de um
indivíduo a outro. Mesmer afirmava curar os doentes, mergulhando-os em sua
famosa “tina” em Paris e provocando-lhes convulsões que restabeleciam o
equilíbrio do fluido. uma dessas sessões é descrita por Alexandre Dumas em O
colar da rainha.
44. José II (1741-90), imperador do Sacro Império Romano-Germânico a partir
de 1765. Irmão da rainha da França Maria Antonieta, tentou usá-la para viabilizar
sua política europeia.
45. Montanha: na Revolução Francesa, corrente política favorável à República.
Dela fizeram parte, entre outros, Danton, Robespierre e Marat. Dominando
amplamente a Assembleia e a Convenção Nacional, combateu tenazmente os
girondinos, corrente mais moderada que representava a burguesia da província e
cujos principais líderes foram guilhotinados pelo Terror, em 1793.
46. Georges-Jacques Danton (1759-94): um dos arautos da Revolução e
personalidade bastante discutida. Grande orador do clube dos Capuchinhos (ver
nota 51), faz parte do grupo da Montanha. Permite os massacres de setembro de
1792 e vota a favor da execução do rei. O caso que Dumas atribui-lhe com uma
bailarina (ver A mulher da gargantilha de veludo) é pura ficção. Em outubronovembro
de 1793, casado pela segunda vez logo após a morte da primeira
mulher, encontra-se em sua região natal de Arcis-sur-Aube. Robespierre (ver
nota 136 de A mulher da gargantilha de veludo), seu rival de sempre, aproveita-se
de sua ausência para desacreditá-lo. Danton é preso em 30 de março e
executado em 5 de abril de 1794. Camille Desmoulins (1760-94): advogado,
jornalista e revolucionário francês. Eleito para a Convenção Nacional em 1792,
vai se afastando cada vez mais dos radicais. Preso junto com Danton, é
guilhotinado na praça da Revolução.
47. Jean-Paul Marat (1743-93), médico e jornalista francês, foi deputado na
Convenção Nacional e considerado um dos responsáveis pelos Massacres de
Setembro (2-7 de setembro de 1792), quando milhares de presos foram
sumariamente assassinados, o que levou à radicalização do Terror. Morreu
apunhalado na banheira de sua casa por Charlotte Corday (ver nota 37).
48. Antiga prisão na abadia de Saint-Germain-des-Prés, palco da execução dos
guardas suíços (ver nota 82) e demais defensores da família real, em 10 de
agosto de 1792.
49. Em francês, literalmente, “sem calções”: alcunha dada aos revolucionários
oriundos das classes desfavorecidas da população e defensores da República
igualitária. No lugar dos calções e meias dos nobres e burgueses, usavam calças
compridas listradas em azul e branco, além de um barrete frígio vermelho.
50. O certificado de civismo, instituído pela Revolução Francesa, era uma
espécie de carteira de identidade que atestava igualmente a ideologia do cidadão.
Seu porte foi obrigatório até 1795.
51. Fundado em 1790, o clube dos Capuchinhos, ou Sociedade dos Amigos dos
Direitos do Homem e do Cidadão, conservou o nome do convento onde instalou
sua sede. É o clube de Marat, Desmoulins e, no início, de Danton, antes que este
se bandeasse para os jacobinos. Após a morte de Marat, o clube radicaliza suas
posições e conspira contra os jacobinos. Robespierre manda executar seus
principais dirigentes. Fecha as portas em 1795.
52. François-Séverin Marceau Desgraviers (1769-96) lutou do lado dos
republicanos na guerra da Vendeia, ocorrida entre 1792 e 1794 (ver nota 54).
Nela conheceu o general Dumas, pai de Alexandre (1762-1806).
53. Jean-Baptiste Kléber (1753-1800), general dos exércitos revolucionários.
Serve na Vendeia e na Alemanha. Acompanha Napoleão ao Egito e será
assassinado no Cairo por um sírio.
54. Vendeia: departamento localizado na região noroeste da França, palco de
motins camponeses, de tendência contrarrevolucionária, entre os anos 1792 e
1794. Tais conflitos ficaram conhecidos como “guerra da Vendeia”.
55. Insígnia nas cores azul, branca e vermelha, fixada na lateral do barrete usado
pelos revolucionários franceses.
56. Não é para provocar um horror gratuito que enfatizamos esse tipo de assunto,
mas nos parece que, no momento em que a abolição da pena de morte está na
ordem do dia, tal digressão não seria ociosa. (Nota do autor)
57. O cemitério de Clamart, inaugurado em 1673 e destinado a receber os
despojos de indigentes, ficou famoso por ter recebido os restos mortais dos
condenados à morte, em especial os guilhotinados pela Revolução. Fechado em
1793, deu lugar a um Anfiteatro de Anatomia.
58. Criado em 1635 como “Jardim do Rei”, funcionou exclusivamente como
jardim botânico até a Revolução Francesa, quando passou a se chamar Jardim
das Plantas e a receber igualmente feras e animais exóticos, compondo um
zoológico.
59. Castelos reais franceses, dos quais apenas Versalhes continua de pé.
60. O escocês Walter Scott (1771-1832), mestre do romance histórico, realizou
uma viagem à França, em 1826, a fim de coletar dados para uma biografia de
Napoleão.
61. Lorde-tenente: título honorífico concedido pelo monarca inglês a súditos
ilustres.
62. Referência a um conto homônimo, de Prosper Mérimée (1803-70), narrando
uma experiência paranormal de Carlos XI (1655-97), rei da Suécia. Pouco
depois de perder a esposa, Carlos presencia uma cena de além-túmulo, na qual
um morto-vivo profetiza desgraças futuras para o reino. Mérimée, que era
também arqueólogo, foi um dos introdutores do gênero fantástico na literatura
francesa.
63. Abadia de Saint-Denis: igreja que recebia os restos mortais dos reis franceses
desde a Idade Média.
64. Essa profanação teve início em agosto de 1793, quando os caixões foram
saqueados e as ossadas lançadas numa vala comum. Alexandre Lenoir conseguiu
salvar as estátuas e lápides. uma restauração aconteceu em 1806, ordenada por
Napoleão. Ver também nota 31.
65. Henrique IV (1553-1610), rei da França a partir de 1589, esteve no centro das
“guerras de religião”, que opôs católicos e protestantes, o que o fez mudar várias
vezes de lado antes de subir ao trono, terminando por aderir à fé católica. Morreu
assassinado por um fanático e, postumamente, tornou-se um dos reis mais
reverenciados pelos franceses.
66. João de Bolonha, ou Giambologna (1529-1608), escultor maneirista italiano. A
escultura referida por Dumas é uma estátua equestre de Henrique IV,
encomendada por Maria de Médicis (ver nota 70), e inaugurada em 23 de agosto
de 1614, quatro anos após a morte do rei.
67. Peter Paul Rubens (1577-1640), pintor flamengo, passou quatro anos em
Paris a pedido de Maria de Médicis (ver nota 70), que lhe encomendou cerca de
vinte telas retraçando sua história.
68. Luís XIII (1601-43), rei da França a partir de 1610, seu reinado, indissociável
da figura de seu principal ministro, o astucioso cardeal de Richelieu (1585-1642),
caracterizou-se pela perda de poder dos protestantes e a guerra contra a Áustria.
69. Luís XIV, o rei-sol (1638-1715), rei da França a partir de 1643, filho de Luís
XIII e bisavô de Luís XV. Seu reinado foi o mais longo da França e o mais
prolífico em realizações artísticas e culturais, entre elas a construção do palácio
de Versalhes.
70. Maria de Médicis (1575-1643): rainha da França entre 1600 e 1610, por
morte de seu marido, Henrique IV, e regente em nome do filho Luís XIII até
1614. Ana da Áustria (1601-66): rainha da França entre 1615 e 1643, como
esposa de Luís XIII, e regente em nome do filho Luís XIV até 1651. Maria
Teresa (1638-83): rainha da França a partir de 1660, graças a seu casamento
com Luís XIV, teve uma vida apagada, vítima dos constantes adultérios do
marido. Grão-delfim ou “Monsieur”: título póstumo atribuído ao príncipe Luís da
França (1661-1711), filho de Luís XIV e Maria Teresa. Ele nunca viria a reinar.
71. Luís XV (1710-74): rei da França a partir de 1715, seu reinado, marcado
pelas intrigas palacianas urdidas por sua amante e futura esposa, a sra. de
Maintenon (ver nota 21), foi tão mal-avaliado pelo povo que sua morte tornou-se
motivo de festejos.
72. Trata-se, evidentemente, de Luís XVI, guilhotinado em 21 de janeiro de 1793
e cujos despojos foram enterrados no cemitério da Madeleine, numa vala
comum, e cobertos com cal viva.
73. A duquesa de Châteauroux (1717-44), a sra. de Pompadour (1721-64) e a sra.
du Barry (1743-93) foram amantes do rei Luís XV. O Parc-aux-Cerfs, bairro de
Versalhes, foi o local escolhido pela sra. de Pompadour, após o fim de seu
relacionamento com o rei, para instalar uma espécie de prostíbulo de luxo para
ele.
74. Mão de marfim, com três dedos erguidos, fixada na extremidade dos bastões
reais, símbolo da justiça dos monarcas.
75. Francisco I (1494-1547): rei da França a partir de 1515, é considerado o
monarca mais representativo do Renascimento francês. Condessa de Flandres:
Margarida I de Borgonha (1309-82). Filipe o Caolho (1292-1322): reinou sobre a
França entre 1317 e 1322.
76. Jean-François Paul de Gondi (1613-79), cardeal de Retz, foi um político,
memorialista e conspirador francês. Após sepultado, Luís XIV proibiu que lhe
erguessem um monumento fúnebre, o que terminou por evitar a profanação de
seu túmulo.
77. Valois e Carlos: dinastias de reis franceses. A dos Valois teve início com Filipe
IV o Afortunado (1293-1350), e manteve-se no poder de 1328 a 1589; a dos
Carlos, representando a carolíngia, tem como pedra angular Carlos Magno (747-
814), mas retroage até seu pai Pepino o Breve (714-68), cujo reinado iniciou-se
em 751 e terminou em 1768 com a divisão do reino entre seus dois filhos, sendo o
outro Carlomano (751-71), de curtíssimo reinado.
78. A dinastia dos Bourbon teve início em 1589, com Henrique IV (1553-1610), e
foi a última antes da queda da monarquia, extinguindo-se definitivamente em
1793, com a decapitação de Luís XVI, aos 39 anos.
79. Cadeiras de espaldar alto destinadas aos eclesiásticos, no coro ou capela-mor
de uma igreja.
80. Manopla: luva de ferro, que protegia os gladiadores e que, posteriormente,
passou a integrar as armaduras de guerra da nobreza.
81. Cota de armas: revestimento até a altura dos joelhos, usado sob a parte
superior da armadura de um cavaleiro, protegendo-lhe o peito e as costas.
82. Suíços: unidades de mercenários suíços contratados pelos soberanos para sua
proteção. Foram comuns nas cortes europeias desde o séc.X até o XIX.
83. O sistema do abade Moulle parece reproduzir os principais aspectos da teoria
do cientista e teólogo sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772).
84. A construção da igreja teria sido iniciada por Roberto o Piedoso (972-1031), e
não por Roberto o Forte (815/830-866). A confusão de Dumas talvez advenha de
ela se chamar Notre-Dame-le-Fort, alcunha que recebeu devido às suas torres
denteadas, típicas de um forte.
85. Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-64) foram os dois grandes
teóricos e líderes da Reforma protestante.
86. A igreja de Saint-Jean-de-Vignes, localizada na comuna de Soissons e
construída por iniciativa de Hugo o Grande (898-956), foi saqueada durante a
Revolução; seus vitrais e os objetos de ferro acabaram vendidos, estes últimos à
Casa da Moeda.
87. No Renascimento, acreditava-se que os pássaros voavam graças à força dos
ventos. Amáquina pneumática (do gr. pneumatikos, “fôlego”, “alma”), ao criar o
vácuo em seu interior, impediria o animal de voar. A pneumática consiste no
emprego do ar na ciência e na tecnologia, comprimindo-o, expandindo-o ou,
neste caso, eliminando-o.
88. Louis Dominique Cartousen, vulgo Cartouche (1693-1721): conhecido
salteador, chegou a ter mas de 2 mil integrantes em seu bando e foi executado na
praça de Grève. Jean Chevalier, vulgo Poulailler: famoso bandido do séc.XIII
que atacava especialmente as mulheres.
89. Referência a Antoine Rossignol des Roches (1600-82), matemático que,
devido a seu precioso dom de decifrar textos em código, foi chamado pelo
cardeal Richelieu para trabalhar na corte.
90. Estêvão, considerado o primeiro mártir do cristianismo, acusado de blasfêmia
após declarar ter visto Jesus Cristo, morreu apedrejado. O romano Saulo,
perseguidor de cristãos, estava entre seus acusadores. Mais tarde, na estrada de
Damasco, interpelado pela aparição milagrosa de Jesus (“Por que me persegues,
Saulo?”), Saulo converteu-se, adotando o nome de Paulo (Atos dos Apóstolos, 7,
54-60; 9, 1-19).
91. Na realidade, Paulo foi decapitado.
92. Evangelho de são Lucas, 23, 42-43.
93. Chamava-se assim ao lugar onde se enforcavam os ladrões e assassinos.
(Nota do autor)
94. A torre de Guinette, na cidade de Étampes, é um torreão único na arquitetura
francesa, devido à sua estrutura quadrilobulada, isto é, com quatro lóbulos.
95. Diógenes Laércio (início do séc.III d.C.), em Vidas dos filósofos ilustres, conta
que, para refutar a definição de Platão (428-348 a.C.), Diógenes o Cínico (413-
327 a.C.) passeou pelas ruas de Atenas com um galo nas mãos, bradando: “Eis o
homem de Platão!”
96. Sobre Cazotte, ver nota 29.
97. A pedra filosofal (do lat. lapis philosophorum), objetivo último dos
experimentos alquímicos, teria o poder de transformar metais em ouro, curar
doenças e prolongar a vida humana.
98. Pitágoras de Samos (c.580-c.495 a.C.), filósofo e matemático grego. Segundo
Porfírio (234-c.325 d.C.), em sua Vida de Pitágoras, este afirmava que “a alma é
imortal … migra para outras espécies animais … em períodos determinados, o
que foi renasce, nada é absolutamente novo. Devemos reconhecer a mesma
espécie em todas as criaturas agraciadas com a vida”, o que ficou conhecido
como a teoria da “transmigração das almas”. Para o conde de Saint-Germain e
Cagliostro, ver nota 17.
99. A estância termal de Loèche-les-Bains (Leukerbad, em alemão) fica na
Suíça, na parte alemã do cantão de Valais, e as propriedades de suas águas são
conhecidas desde a Idade Média. Dista c.190 quilômetros da Basileia.
100. O termo “vampiro” proviria do servo-croata vampir, significando
originalmente “espíritos que saem das tumbas para atormentar os vivos”. No fim
do séc.XV, o mito do vampiro, já com o atributo de “bebedor de sangue do qual
extrai sua força vital”, fortemente enraizado na cultura eslava, difundiu-se
sobretudo a partir da Valáquia (região que forma atualmente o sul da Romênia),
berço do príncipe Vlad Tepes Dracul (Vlad Empalador de Dragão, 1431-76).
Cruel e sanguinário, este tornou-se o modelo geralmente utilizado na composição
do “conde Drácula”, como, por exemplo, no Dracula, do escritor irlandês Bram
Stoker (1847-1912), publicado em 1897 e fonte da lenda contemporânea.
101. Os montes Cárpatos formam a principal cordilheira da Europa central e
ocupa os atuais territórios da Áustria, Eslováquia, Polônia, República Tcheca,
Hungria, ucrânia, Romênia e Sérvia.
102. Cidade do sudeste da Polônia localizada às margens do Vístula. Na época
em que se situa a ação, essa região do país achava-se sob domínio russo.
103. Ano em que o czar Nicolau I (1796-1855) sobe ao trono e endurece
drasticamente a política russa com relação à Polônia ocupada. Em 1830, eclodirá
a malograda insurreição de Varsóvia, a qual suscitará uma sangrenta repressão.
104. “Por ocasião da segunda divisão da Polônia”: Já desmembrada em 1772
entre a Áustria, a Prússia e a Rússia, a Polônia é objeto de duas outras divisões,
em 1793 e 1795, que a desintegram completamente. Ela recuperou sua
independência em 1918, após a Primeira Guerra Mundial. Sarrastro: área
localizada na região oriental dos Cárpatos, ou seja, na atual Romênia.
105. Cidade da Rússia situada ao norte de Moscou, conhecida por suas
manufaturas.
106. Maior rio da Polônia, nasce nos montes Cárpatos e deságua no mar Cáspio.
107. Rio da Transilvânia (Romênia), cuja nascente situa-se nos Cárpatos.
108. O morlaco, ou dálmata, é uma língua extinta falada pelos habitantes do norte
da Dalmácia, litoral da atual Croácia.
109. Ilíria: antigo reino que, nos dias de hoje, abrange parte da Croácia e a
totalidade dos territórios da Eslovênia, da Albânia e do Kosovo.
110. Iatagã: sabre com a ponta curva, de origem turca.
111. Esse poema reproduz uma balada intitulada “O vampiro”, que faz parte de
La Guzla, de Prosper Mérimée (1827), miscelânea de lendas e poemas da
Europa central.
112. Os Brancovan eram uma família nobre da Valáquia, a qual gerou uma
dinastia de príncipes, o mais famosos deles sendo Constantino Brancovan (1654-
1714), que morreu decapitado após ser derrotado por Dimitri Cantemir (1623-
73), príncipe da Moldávia.
113. Rafael Sanzio (1483-1520), pintor italiano renascentista, usava um gorro
peculiar, como mostra seu autorretrato de 1506, exposto no palácio Uffizi, em
Florença.
114. Trata-se de uma balada de Gottfried August Bürger (1747-94), objeto de
duas traduções na França, uma em prosa (1829), outra em versos (1830), ambas
realizadas pelo escritor e poeta Gérard de Nerval (1808-55). A balada descreve a
cavalgada de uma adolescente na garupa de um misterioso cavaleiro, que ela
julga ser seu noivo de volta da guerra, mas que no fim revela-se seu fantasma,
que a carrega junto com ele de volta para o túmulo. Essa obra marcou
fortemente o romantismo europeu.
115. Cantemir: dinastia reinante na Moldávia, inimiga dos Brancovan. Ver
também nota 112. Pedro I (1672-1725): czar que imprimiu um caráter
expansionista à política russa.
116. Nichan: ordem honorífica otomana. Mahmud (1696-1754): sultão do
Império Otomano a partir de 1730.
117. Gênesis, 4, 9.
118. A sangria é terapia antiga, consistindo em retirar determinada quantidade de
sangue do corpo do paciente por meio de ventosas ou sanguessugas.
119. Godofredo de Villehardouin (c.1148-c.1213) participou da Quarta Cruzada
(1202-04), e portanto da tomada de Constantinopla, capital do Império Bizantino.
A conquista e saque da cidade, em 1204, foi o acontecimento mais marcante
daquela cruzada e deu início ao chamado Império Latino (1204-61). Godofredo
foi nomeado marechal do novo império. Aparentemente morreu por volta de
1213, quando seu nome desaparece das fontes da época. Balduíno I de
Constantinopla (1172-1205), Balduíno IX da Flandres, imperador em 1204-05.
120. Pope: sacerdote da religião ortodoxa russa.
121. Referência ao drama Don Juan de Tenorio, de José Zorilla (1817-93), em
cujo segundo ato o espectro do comendador, pai da noiva de don Juan e por ele
assassinado, aparece para conduzi-lo ao inferno.
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