domingo, 3 de dezembro de 2017

T2 N° 767 : O mosteiro de Hang

 O mosteiro de Hang

Quando acordei, estava em meu quarto, deitada na cama. Uma das servas cuidava de mim. Perguntei por Esmeranda. Responderam-me que velava o corpo do filho. Perguntei por Gregoriska. Responderam-me que estava no mosteiro de Hango. Não fazia mais sentido fugir. Kostaki não estava morto? Muito menos casar. Poderia eu casar com o fratricida? Três dias e três noites passaram-se em meio a sonhos estranhos. Em minha vigília ou em meu sono, via sempre aqueles dois olhos vivos no meio do rosto morto: era uma visão horrível. Na manhã do terceiro dia, quando deveria acontecer o enterro de Kostaki, trouxeram-me, da parte de Esmeranda, um traje completo de viúva. Vesti-me e desci. O castelo parecia vazio. Estavam todos na capela. Dirigi-me ao local da cerimônia. Na entrada, Esmeranda, que fazia três dias eu não via, veio em minha direção. Era a imagem da Dor. Com um movimento lento como o de uma estátua, pousou seus lábios gelados na minha testa e, com uma voz que parecia já vir do túmulo, pronunciou as mesmas palavras: — Kostaki ama Hedwige. Os senhores não podem fazer ideia do efeito que tais palavras produziram em mim. Aquela declaração de amor feita no presente em vez de no passado; aquele a ama, em vez de a amava; aquele amor de além-túmulo, imiscuindo-se no mundo dos vivos, causou-me uma impressão terrível. Ao mesmo tempo, uma estranha sensação se apoderava de mim, como se eu tivesse sido efetivamente esposa do defunto, e não noiva do que ainda vivia. Aquele caixão me atraía, contra a minha vontade, dolorosamente, como a serpente atrai o pássaro que ela fascina. Procurei Gregoriska com os olhos. Avistei-o, pálido e de pé, recostado numa coluna. Seus olhos estavam longe. Não posso dizer se me viu. Os monges do convento de Hango rodeavam o corpo, entoando cânticos do ritual grego, às vezes tão harmoniosos, em geral tão monótonos. Eu também queria rezar, mas a prece morria em meus lábios. Estava de tal forma abalada que me parecia assistir antes a uma assembleia de demônios que a uma reunião de padres. No momento em que levaram o corpo, fiz menção de segui-lo, mas minhas forças recusaram-se a me obedecer. Senti minhas pernas faltarem e me apoiei na porta. Esmeranda veio em minha direção e fez um sinal para Gregoriska. Gregoriska obedeceu e se aproximou. Esmeranda dirigiu-se a mim em língua moldávia. — Minha mãe me ordena que lhe repita palavra por palavra de seu pronunciamento — disse Gregoriska. Esmeranda retomou a palavra. Quando ela terminou, ele disse: — Eis as palavras de minha mãe: “Você chora meu filho, Hedwige, você o ama, não é verdade? Sou-lhe grata por suas lágrimas e seu amor. Doravante você é minha filha como se Kostaki tivesse sido seu esposo. Agora você tem pátria, mãe e família. Vertamos a soma de lágrimas que devemos aos mortos e voltemos ambas a ser dignas daquele que não existe mais… eu, sua mãe, você sua mulher! Adeus, volte para nossa casa. Seguirei meu filho à sua última morada. Quando retornar, me trancarei com a minha dor e só me verá quando a houver vencido. Não se preocupe, irei matá-la, pois não desejo que ela me mate.” Não pude responder a essas palavras de Esmeranda, traduzidas por Gregoriska, senão com um gemido. Subi ao meu quarto, o comboio se afastou. Vi-o desaparecer na curva do caminho. Embora o convento de Hango distasse apenas dois quilômetros do castelo em linha reta, os acidentes do solo obrigavam a estrada a desviar, demandando cerca de duas horas para alcançá-lo. Estávamos no mês de novembro. Os dias tornavam a ser mais curtos e frios. Às cinco da tarde, era noite fechada. Por volta das sete horas, vi as tochas reaparecerem. Era o cortejo fúnebre que retornava. O cadáver repousava no túmulo de seus antepassados. Estava tudo dito. Já lhes falei da estranha obsessão que me atormentava desde o fatal e pesaroso acontecimento e, sobretudo, desde que eu vira reabertos e fixos em mim os olhos que a morte fechara. Aquela noite, prostrada pelas emoções do dia, eu estava ainda mais triste. Escutava soarem as diferentes horas no relógio do castelo, entristecendo à medida que o tempo transcorrido me aproximava do provável instante em que Kostaki morrera. O relógio tocou, eram quinze para as nove. Foi quando uma sensação estranha se apoderou de mim. Era um terror de arrepiar que percorria todo o meu corpo, congelando-o. E esse mesmo terror inspirava alguma coisa como um sono invencível, que entorpecia meus sentidos. Meu peito ficou apertado, meus olhos se embaçaram, estendi os braços e fui recuando até cair na cama. Contudo, meus sentidos ainda bastaram para eu perceber o que me pareceu serem passos se aproximando de minha porta. Em seguida, julguei ver a porta se abrindo. Então não vi nem ouvi mais nada. Senti apenas uma dor lancinante no pescoço. Mergulhei instantaneamente numa letargia absoluta. À meia-noite, despertei, minha lamparina ainda ardia. Quis me levantar, mas estava tão fraca que não consegui da primeira vez. Terminei por vencer a fraqueza, mas como, desperta, eu continuava a sentir no pescoço a mesma dor que sentira dormindo, arrastei-me até o espelho, apoiando-me na parede, e me examinei. Algo parecido com uma espetadela de alfinete marcava a artéria de meu pescoço. Supus que algum inseto me houvesse mordido durante o sono. Como estava morta de cansaço, deitei e dormi. No dia seguinte, acordei normalmente. Como de costume, quis me levantar tão logo meus olhos se abriram, mas senti uma fraqueza que só sentira uma vez na vida: no dia seguinte àquele em que eu fora submetida a uma sangria.118 Fui ao espelho e fiquei impressionada com minha palidez. O dia transcorreu triste e melancólico. Era uma sensação estranha: onde eu estava, precisava ficar; qualquer deslocamento era um sacrifício. Anoiteceu, trouxeram-me uma lamparina. Minhas servas, ao menos foi o que depreendi de seus gestos, ofereciam-me companhia. Agradeci; elas saíram. Na mesma hora da véspera, senti os mesmos sintomas. Quis me levantar, chamar por socorro, mas não consegui alcançar a porta. Ouvi vagamente o timbre do relógio dando quinze para as nove, os passos ressoaram, a porta se abriu. Mas eu não via nem ouvia mais nada. Como na véspera, desabei completamente na cama. Como na véspera, senti uma dor aguda no mesmo lugar. Como na véspera, acordei à meia-noite, porém mais fraca e mais pálida. No dia seguinte, a horrível obsessão se repetiu. Eu estava decidida a descer para junto de Esmeranda, por mais fraca que me sentisse, quando uma das mulheres entrou no quarto e pronunciou o nome de Gregoriska. Gregoriska vinha atrás dela. Quis me levantar para recebê-lo, mas caí novamente na poltrona. Ao me ver, ele deu um grito e fez menção de correr para mim, mas tive forças para estender-lhe o braço. — O que vem fazer aqui? — perguntei. — Que tristeza! — ele exclamou. — Vinha lhe dizer adeus! Vinha lhe dizer que deixo este mundo, pois ele me é insuportável sem o seu amor e sem a sua presença. Vinha lhe dizer que me retiro para o mosteiro de Hango. — Minha presença lhe foi subtraída, Gregoriska — respondi —, mas meu amor, não. Ai! Continuo a amá-lo, e minha grande dor é que agora esse amor seja quase um crime. — Posso então ter esperanças de que rezará por mim, Hedwige? — Sim, mas não rezarei por muito tempo — acrescentei, com um sorriso. — O que há com você, e por que essa palidez? — Eu… Deus tenha piedade de mim, sem dúvida ele me chama! Gregoriska aproximou-se, pegou uma de minhas mãos, que não tive forças para lhe negar e, olhando-me fixamente, disse: — Essa palidez não é natural, Hedwige. De onde ela vem? Fale. — Se eu falasse, Gregoriska, você acharia que enlouqueci. — Não, não, fale, Hedwige, eu lhe suplico. Este é um país diferente de todos os outros, esta é uma família diferente de todas as outras. Fale, fale tudo, eu lhe suplico. Contei-lhe tudo: aquela estranha alucinação que me arrebatava precisamente na hora provável da morte de Kostaki; aquele terror, o torpor, o frio de gelo, a prostração que me prendia na cama, o barulho que eu julgava ouvir, a porta que eu julgava ver se abrindo, finalmente a dor aguda seguida por uma palidez e uma fraqueza cada vez maiores. Eu julgara que Gregoriska veria meu relato como um início de loucura, e por isso ia terminando-o com certa timidez, quando, ao contrário, percebi que ele lhe dedicava uma atenção profunda. Quando parei de falar, ele refletiu por um instante. — Quer dizer — ele perguntou — que você dorme todas as noites às quinze para as nove? — Sim, por mais que me esforce para ficar acordada. — Pensa ver a porta se abrindo? — Sim, embora eu a tranque com o ferrolho. — E sente uma dor aguda no pescoço? — Sim, embora meu pescoço mal conserve marca de ferimento. — Permite que eu veja? — ele perguntou. Deitei a cabeça de lado. Ele examinou a cicatriz. — Hedwige — ele disse após um instante —, confia em mim? — Ainda uma pergunta? — respondi. — Acredita na minha palavra? — Como nos santos Evangelhos. — Pois bem! Acredite em mim, Hedwige, juro que não tem oito dias de vida se não consentir em fazer, hoje mesmo, o que lhe direi. — E se consentir? — Se consentir, talvez tenha salvação. — Talvez? Ele se calou. — Aconteça o que acontecer, Gregoriska — prossegui —, farei o que me ordenar. — Ótimo! Escute e, sobretudo, não se assuste. Em seu país, como na Hungria, como na nossa Romênia, vigora uma tradição. Senti um calafrio, pois aquela tradição me voltara à memória. — Ah! — ele percebeu. — Sabe do que estou falando? — Sim — respondi —, na Polônia vi pessoas submetidas a essa horrível fatalidade. — Refere-se a vampiros, não é? — Sim, na minha infância, no cemitério de uma aldeia pertencente a meu pai, assisti à exumação de quarenta pessoas, mortas num intervalo de quinze dias sem que se pudesse determinar a causa. Dentre esses mortos, dezessete apresentaram todos os sinais de vampirismo, isto é, foram encontrados frios, vermelhos e parecendo estar vivos. Os demais eram aqueles a quem haviam atacado. — E o que foi feito para libertar a região? — Cravaram uma estaca no coração deles todos e depois os queimaram. — É, é assim que agimos normalmente. Mas, em nosso caso, isso não basta. Para libertá-la de um vampiro, primeiro tenho de saber quem ele é, e, juro por Deus!, eu saberei. Sim, e se for preciso, lutarei corpo a corpo com ele, seja quem for. — Oh, Gregoriska! — exclamei, assustada. — Eu disse: seja quem for, e repito-o. Porém, para levar a bom termo essa terrível aventura, terá de cumprir todas as minhas exigências. — Fale. — Esteja pronta às sete horas, desça até a capela, desça sozinha. Tente vencer a fraqueza, Hedwige, é preciso. Lá receberemos a bênção nupcial. Consinta, minha bem-amada. Para defendê-la, é necessário que, perante Deus e os homens, eu tenha o direito de protegê-la. Então, voltaremos para cá e veremos. — Oh, Gregoriska — exclamei —, se for ele, ele o matará! — Nada tema, querida Hedwige. Apenas consinta. — Sabe muito bem que farei tudo que desejar, Gregoriska. — Até a noite, então. — Sim, faça o que desejar de sua parte, e eu darei o melhor de mim para apoiá-lo. Vá. Ele saiu. Quinze minutos depois, vi um cavaleiro a trotar pela estrada do mosteiro, era ele! Mal o perdi de vista, caí de joelhos e rezei, como não se reza mais nos países descrentes dos senhores, e esperei as sete horas, oferecendo a Deus e aos santos o holocausto de meus pensamentos. Só me reergui ao toque das sete horas. Sentia-me fraca como uma moribunda, pálida como uma morta. Envolvi minha cabeça num grande véu negro, desci a escada, escorando-me nas paredes, e me dirigi à capela, sem encontrar ninguém pelo caminho. Gregoriska me esperava com o padre Basílio, superior do convento de Hango. Trazia na cintura uma espada sagrada, relíquia de um velho cruzado que conquistara Constantinopla com Villehardouin e Balduíno de Flandres.119 — Hedwige — disse ele, batendo com a mão na espada —, com a ajuda de Deus, eis quem irá quebrar o feitiço que ameaça sua vida. Aproxime-se com determinação, aqui está o santo homem que, após ouvir minha confissão, receberá nossos juramentos. A cerimônia teve início. Talvez nunca tenha existido outra tão simples e solene. Ninguém auxiliava o pope.120 Ele mesmo pôs em nossas cabeças as tiaras nupciais. Ambos trajando luto, demos a volta no altar com um círio nas mãos. Em seguida, tendo pronunciado as palavras sagradas, o religioso acrescentou: — Agora vão, meus filhos, e que Deus lhes dê força e coragem para lutar contra o inimigo do gênero humano. Suas armas são a inocência e a justiça: vocês vencerão o demônio. Vão, e que Deus os abençoe. Beijamos os livros sagrados e saímos da capela. Então, pela primeira vez, apoiei-me no braço de Gregoriska e, ao tocá-lo, ao sentir aquele braço valente, ao entrar em contato com aquele nobre coração, pareceu-me que a vida retornava às minhas veias. Julguei ter certeza de um triunfo, pois Gregoriska estava comigo. Subimos ao meu quarto. O toque das oito e meia soou. — Hedwige — disse-me então Gregoriska —, não temos tempo a perder. Você gostaria de dormir como sempre, e que tudo aconteça durante o seu sono, ou de permanecer acordada e a tudo assistir? — Ao seu lado, nada temo, desejo permanecer acordada e ver tudo. Gregoriska tirou de seu peito um ramo de buxo, ainda úmido de água benta, entregando-o a mim. — Pegue esse ramo — ele me instruiu —, deite-se na cama, recite suas preces à Virgem e espere sem medo. Deus está conosco. É imperioso que não deixe o ramo cair. Com ele, o próprio inferno obedecerá à sua autoridade. Não chame ninguém, não grite. Reze, não perca a esperança e aguarde. Deitei-me na cama. Cruzei as mãos sobre o peito, apertando meu ramo bento. Gregoriska escondeu-se atrás do pálio de madeira que mencionei anteriormente e que cobria um dos ângulos do quarto. Contei os minutos e Gregoriska, sem dúvida, também os contava do seu lado. Enfim soou o toque de quinze para as nove. A reverberação do martelo ainda ecoava quando senti o mesmo torpor, o mesmo terror, o mesmo frio glacial. Aproximando o ramo bento de meus lábios, essa primeira sensação se dissipou. Ouvi então, muito distintamente, ecoando na escada e se aproximando da porta, o rumor daquele passo lento e cadenciado. Em seguida, a porta se abriu lenta, silenciosamente, como se empurrada por uma força sobrenatural. Foi quando… A voz da narradora emudeceu como se estrangulada na garganta. — Foi quando — ela continuou com um esforço — percebi Kostaki, pálido como eu o vira na padiola. Seus longos cabelos pretos, espalhados sobre os ombros, gotejavam sangue. Usava seu traje de sempre, salvo que estava aberto no peito, revelando a chaga vermelha. Tudo era morte, tudo era cadavérico… a carne, as roupas, o andar… apenas os olhos, aqueles olhos terríveis, estavam vivos. Diante de tal visão, coisa estranha!, em vez de sentir terror redobrado, senti minha coragem aumentando. Era sem dúvida uma graça de Deus, para que eu pudesse avaliar minha situação e me defender contra o inferno. Ao primeiro passo que o vampiro deu na direção da cama, eu temerariamente cruzei meu olhar com o seu, de chumbo, e mostrei-lhe o ramo abençoado. O espectro tentou avançar, mas um poder mais forte que o seu pregou-o no lugar. Ele estacou: — Oh — murmurou —, ela não está dormindo, ela sabe de tudo. Embora ele falasse em moldávio, eu ouvia suas palavras como se pronunciadas numa língua que eu compreendesse. Eu e o vampiro nos encarávamos sem que meus olhos pudessem se desprender dos seus, quando então vi, sem necessidade de virar a cabeça para o lado, Gregoriska sair da estala de madeira qual o anjo exterminador empunhando sua espada. Ele fez o sinal da cruz com a mão esquerda e avançou lentamente apontando a espada para o vampiro. Este, reagindo ao aspecto ameaçador do irmão, puxou seu sabre, soltando uma terrível gargalhada, mas, tão logo o sabre tocou o ferro abençoado, o braço do vampiro interrompeu a luta e ficou inerte junto a seu corpo. Kostaki soltou o ar em seu peito, cheio de luta e desespero. — O que você quer? — perguntou ao irmão. — Em nome de Deus — disse Gregoriska —, intimo-o a responder. — Fale — disse o vampiro, rilhando os dentes. — Fui eu que o esperei? — Não. — Fui eu que o ataquei? — Não. — Fui eu que o golpeei? — Não. — Você se atirou sobre a minha espada, eis a verdade. Logo, aos olhos de Deus e dos homens, não sou culpado do crime de fratricídio. Logo, você não recebeu uma missão divina, mas infernal. Logo, você saiu do túmulo não como uma sombra sagrada, mas como um espectro maldito, e para lá retornará. — Junto com ela, sim! — bradou Kostaki, fazendo um esforço supremo para me agarrar. — Sozinho — gritou por sua vez Gregoriska. — Esta mulher me pertence. E, pronunciando estas palavras, tocou a chaga viva com a ponta do ferro abençoado. Kostaki deu um grito como se um gládio de fogo o tivesse golpeado. Levando a mão esquerda ao peito, deu um passo atrás. Ao mesmo tempo, e com um movimento que parecia encadeado ao seu, Gregoriska deu um passo à frente. Então, olhos nos olhos com o morto, a espada no peito do irmão, teve início uma marcha lenta, terrível, solene. Algo que evocava a passagem de don Juan e o comendador:121 o espectro recuando diante do gládio sagrado, da vontade irresistível do paladino de Deus, enquanto este seguia-o passo a passo sem pronunciar palavra, ambos ofegantes, ambos lívidos, o vivo empurrando o morto à sua frente e obrigando-o a trocar o castelo que fora sua morada no passado pelo túmulo que seria sua morada no futuro.

Algo que evocava a passagem de don Juan e o comendador: o espectro recuando diante do gládio sagrado, da vontade irresistível do paladino de Deus. Oh, era terrível de ver, juro. E, contudo, movida por uma força superior, invisível, desconhecida, sem me dar conta do que fazia, levantei-me e segui-os. Descemos a escada, iluminados apenas pelas pupilas ardentes de Kostaki. Passamos a galeria e o pátio. Transpusemos a porta no mesmo passo cadenciado, o espectro recuando de costas, Gregoriska com o braço estendido, e eu atrás. A incursão fantástica durou uma hora. Era preciso reconduzir o morto a seu túmulo. Porém, em vez de tomarem o caminho de costume, Kostaki e Gregoriska haviam atravessado o terreno numa linha reta, pouco se preocupando com os obstáculos, que haviam deixado de existir. Sob seus pés o solo se aplainava, as torrentes secavam, as árvores recuavam, as rochas se abriam. O mesmo milagre operava-se comigo, com a diferença de que todo o céu parecia-me coberto por uma fumaça negra, a lua e as estrelas haviam desaparecido e eu continuava a ver brilhar na noite apenas os olhos de fogo do vampiro. Chegamos assim a Hango e atravessamos a sebe de arbustos que protegia o cemitério. Tão logo entrei, discerni na penumbra o túmulo de Kostaki instalado ao lado do de seu pai. Eu ignorava sua localização, mas o reconheci. Naquela noite eu sabia tudo. À beira da sepultura aberta, Gregoriska se deteve. — Kostaki — disse ele —, nem tudo terminou para você, e uma voz do céu me diz que será perdoado caso se arrependa. Promete voltar ao túmulo, promete não tornar a sair, promete, enfim, dedicar a Deus o culto que dedicou ao inferno? — Não! — desafiou Kostaki. — Arrepende-se? — perguntou Gregoriska. — Não! — Pela última vez, Kostaki! — Não! — Muito bem! Invoque Satanás em seu auxílio, eu invocarei Deus, e veremos a quem caberá a vitória! Dois gritos ressoaram ao mesmo tempo. Os ferros cruzaram-se, produzindo faíscas, e o combate durou um minuto que me pareceu um século. Kostaki caiu. Vi erguer-se a espada terrível, vi-a penetrar em seu corpo e cravá-lo na terra recém-revolvida. Um grito supremo, que nada tinha de humano, atravessou os ares. Acorri. Gregoriska permanecera de pé, vacilante. Arrojei-me e o escorei pelos braços. — Está ferido? — perguntei, com ansiedade. — Não — ele respondeu —, mas num duelo desse tipo, querida Hedwige, não é o ferimento que mata, é a luta. Lutei com a morte, à morte pertenço. — Querido! Querido! — exclamei. — Afaste-se, deixe este lugar, a vida talvez lhe renasça. — Não — ele disse —, eis o meu túmulo, Hedwige. Mas não percamos tempo. Pegue um pouco dessa terra impregnada do meu sangue e aplique-a sobre a mordida que ele lhe deu. É o único meio de protegê-la de seu horrível amor no futuro. Obedeci, trêmula. Abaixei para recolher a terra ensanguentada e, ao me abaixar, vi o cadáver pregado no solo. A espada abençoada varava-lhe o coração e um sangue negro e abundante saía do ferimento, como se ele acabasse de morrer naquele instante.

“Um beijo! O último, o único, Hedwige! Estou morrendo.” Modelei um pouco de terra com sangue e apliquei o medonho talismã no ferimento. — Agora, adorada Hedwige — disse Gregoriska, com uma voz enfraquecida —, ouça bem minhas últimas instruções: deixe o país assim que puder. A distância é sua única segurança. O padre Basílio recebeu hoje minhas vontades supremas e as fará cumprir. Hedwige! Um beijo! O último, o único, Hedwige! Estou morrendo. E, dizendo tais palavras, Gregoriska tombou ao lado do irmão. Em qualquer outra circunstância, junto àquela sepultura aberta, com aqueles dois cadáveres deitados lado a lado, eu teria enlouquecido, mas, já lhes disse, Deus infundira em mim uma força igual à dos acontecimentos dos quais me fazia não apenas testemunha, mas também protagonista. No momento em que eu observava à minha volta, procurando algum socorro, vi a porta do claustro abrir-se e os monges, encabeçados pelo padre Basílio, avançarem dois a dois, carregando tochas acesas e cantando as preces dos mortos. O padre Basílio acabava de chegar ao mosteiro. Previra o que havia acontecido e, à frente de toda a comunidade, dirigia-se ao cemitério. Encontrou-me viva junto aos dois mortos. Kostaki apresentava o rosto desfigurado por uma última convulsão. Gregoriska, ao contrário, estava calmo e quase sorrindo. Segundo suas recomendações, foi enterrado ao lado do irmão, o cristão protegendo o maldito. Esmeranda, ao saber daquele novo infortúnio e do papel que nele eu representara, quis estar comigo. Veio encontrar-me no convento de Hango e soube de minha boca tudo que acontecera naquela noite terrível. Narrei-lhe em todos os detalhes a fantástica história, mas ela escutou como Gregoriska me escutara, sem espanto, sem susto. — Hedwige — respondeu ela, após um momento de silêncio —, por mais estranho que seja o que acaba de me contar, você disse apenas a verdade pura. A raça dos Brancovan foi amaldiçoada até a terceira e quarta gerações, e isso desde que um Brancovan matou um padre. Mas o fim da maldição chegou, pois, embora esposa, você é virgem, e comigo a linhagem se extingue. Se meu filho lhe deu um milhão, aceite-o. Quando eu morrer, afora os legados piedosos que pretendo fazer, você herdará o resto de minha fortuna. Agora siga o conselho de seu esposo e volte o mais rápido possível para aqueles países onde Deus não permite que esses terríveis prodígios aconteçam. Não preciso de ninguém para chorar meus filhos comigo. Minha dor exige solidão. Adeus, não pergunte por mim. Meu destino pertence apenas a mim e a Deus. Beijando-me na testa como de costume, despediu-se e foi se enclausurar no castelo de Brancovan. Uma semana depois, parti para a França. Como Gregoriska previra, minhas noites deixaram de ser frequentadas pelo terrível fantasma. Minha saúde também se restabeleceu e, do episódio, preservei apenas a palidez mortal que acompanha até o túmulo toda criatura humana que recebeu o beijo do vampiro. A dama se calou, a meia-noite soou e eu quase ousaria dizer que o mais corajoso de nós estremeceu ao som do pêndulo. Era hora de encerrar a reunião. Despedimo-nos do sr. Ledru. Um ano depois, esse excelente homem morreu. É a primeira vez desde sua morte que me é dada a oportunidade de pagar tributo ao bom cidadão, ao cientista modesto e, sobretudo, ao homem de caráter. Apresso-me a fazê-lo. Nunca mais voltei a Fontenay -aux-Roses. Mas a lembrança dessa jornada deixou impressão tão profunda em minha vida, essas histórias estranhas, que se haviam acumulado numa única noite, escavaram um sulco tão profundo em minha memória, que, esperando despertar nos outros o interesse que eu mesmo sentira, recolhi nos diferentes países que venho percorrendo há dezoito anos, isto é, Suíça, Alemanha, Itália, Espanha, Sicília, Grécia e Inglaterra, todas as tradições do gênero que os relatos dos diferentes povos ressuscitaram no meu ouvido. Com elas compus esta coletânea, que entrego aos meus fiéis leitores sob o título: 1001 fantasmas. 1. Nemrod: personagem bíblico, neto de Noé, designado como “valente caçador perante o Eterno” no livro do Gênesis, 10, 9. Elzéar Blaze (1786-1848): oficial do exército de Napoleão, caçador e apaixonado por cães, escreveu O caçador e os cães apontadores e O caçador contador de histórias. 2. Villers-Cotterêts, na região da Picardia, norte da França, é a aldeia natal de Alexandre Dumas. 3. Fazendeiro de uma aldeia próxima a Brassoire, citado por Alexandre Dumas em sua autobiografia, Minhas memórias, de 1863. 4. Barreiras de Paris: postos de controle que fiscalizavam a entrada e a saída de mercadorias e indivíduos do perímetro urbano parisiense. uma das mais importantes, a barreira do Inferno, formada por dois pavilhões neoclássicos e edificada a partir de 1787, subsiste ainda hoje e situa-se na praça DenfertRochereau (antes rua d’Enfer). 5. Juliano o Apóstata (331-363): imperador romano especialmente ligado a Paris, onde passou longas temporadas. O epíteto “apóstata” (“desertor”) deveu-se à sua pretensão de restabelecer o paganismo em território romano, já dominado pelo cristianismo. Lutécia: nome romano da futura cidade de Paris. 6. Tombe, em francês, significa “túmulo” ou “tumba”. Daí o nome Tombe-Issoire para o lugar onde o bandoleiro está enterrado. 7. O Petit Montrouge, que abrange a parte norte de Montrouge, foi anexado a Paris em 1860 e forma a parte sul do 14 o arrondissement, uma das vinte regiões administrativas nas quais a cidade é dividida. 8. Personagem da mitologia grega condenado por Zeus ao martírio eterno nos Infernos, preso a uma roda em chamas. 9. Alusão a gravuras da série Caprichos, do pintor espanhol Francisco Goy a (1746-1828), em que feiticeiras roubam dentes dos enforcados para usar em suas poções. 10. Mirante situado a 1.913 metros de altitude, no maciço do Mont Blanc. 11. A cidade italiana de Sorrento, na região de Nápoles, é famosa por seus produtos cítricos. 12. Leviatã: monstro marinho mitológico, mistura de serpente e polvo, citado no Antigo Testamento (Jó, 41) como um animal de estimação divino. Mais tarde, na obra homônima do cientista político inglês Thomas Hobbes (1588-1679), será usado como a metáfora do poder absoluto. 13. Jacques-Philippe Ledru (1754-1832), membro da Academia Francesa de Medicina e filho de Nicolas Philippe Ledru, vulgo Comus (ver nota 42), foi médico do rei, célebre em toda a Europa por seus experimentos no campo da física. 14. Mestre Adão: trata-se de Adam Billaut (1602-62), marceneiro, poeta e chansonnier, considerado o primeiro “poeta-operário”. 15. O dia 29 de julho de 1830, auge da chamada Revolução de Julho, é tido como uma das “Três Jornadas Gloriosas” (27, 28 e 29 de julho), nas quais o povo parisiense sublevou-se contra a monarquia de Carlos X (1757-1836) e instaurou no poder uma nova dinastia, na pessoa do rei Luís Filipe d’Orléans (1773-1850). 16. Na realidade Jean-Baptiste Alliette (1738-91), ocultista francês, célebre por ter popularizado um tipo de cartomancia baseada no tarô. 17. Conde de Cagliostro ou Giuseppe Balsamo (1743-95), aventureiro italiano que frequentou a corte da França. Envolveu-se em casos misteriosos, como o do colar de Maria Antonieta, no qual a rainha foi caluniada por golpistas que encomendaram em seu nome um colar de 1,5 milhão de libras. Suspeito de franco-maçonaria e ocultismo, foi deportado para a Itália, onde morreu na prisão. Dumas transformou-o num dos protagonistas das Memórias de um médico, ciclo de romances sobre a Revolução Francesa. Conde de Saint-Germain (1707-84): outro aventureiro que frequentou assiduamente as cortes europeias, em especial a da França. Declarava ter séculos de idade. Judeu Errante: personagem lendário que remonta à Europa medieval e que não pode perder a vida, pois perdeu a morte. Logo, vagueia pelo mundo, onde aparece de tempos em tempos. 18. Pequena imprecisão: Alexandre Dumas nasceu em 1802. 19. Pirro: nome que alude ao rei grego Pirro I (318-272 a.C.), um dos primeiros opositores do nascente Império Romano. Seu triunfo na batalha de Ausculum (279 a.C.), na qual perdeu praticamente todo o seu exército, deu origem à expressão “vitória de Pirro”, significando uma vitória apenas aparente. Na ocasião, ele teria dito: “Se tivermos de vencer os romanos novamente, estamos perdidos.” 20. O barbeiro de Sevilha e As bodas de Fígaro: comédias de Pierre-Augustine Caron de Beaumarchais (1732-99), as quais serviram de base para os libretos das operetas homônimas de Gioachino Rossini (1792-1868) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756-91), respectivamente. 21. Paul Scarron (1610-60), escritor francês, casou-se em 1652 com Françoise d’Aubigné (1635-1719). Esta, nascida na prisão de Niort (onde seu pai cumpria pena por dívidas), após enviuvar de Scarron, será amante e depois esposa do rei Luís XIV, recebendo o título de marquesa de Maintenon. Fundou, em 1684, a Maison Roy ale de Saint-Cy r, um internato feminino. 22. Mapa do país do amor, imaginado, em 1653, pela escritora francesa Madeleine de Scudéry (1607-1701) e que exerceu grande influência sobre a corrente preciosa, adepta de um estilo elegante e depurado, bem como do amor idealizado. 23. Jovem mágica muçulmana, personagem do poema épico Jerusalém libertada, do poeta italiano Torquato Tasso (1544-95), que aprisiona em seus jardins, sítio de delícias, o cruzado Renaud. 24. Fundado em 1815, Le Constitutionnel começa como o jornal da oposição liberal, tendo por inimigos declarados os jesuítas. Desempenhou um papel importante na Revolução de 1830, apoiando o duque de Orléans, futuro rei Luís Filipe (ver nota 15). Em seguida, tornou-se um órgão mais conservador. 25. O filósofo e teólogo Pedro Abelardo (1079-1142) foi o preceptor da jovem Heloísa (1101-54), com quem se casou secretamente. Os amantes foram separados pelo cônego Fulbert, tio de Heloísa, que a fez entrar para um convento e mandou castrar Abelardo. Os dois deixaram uma importante correspondência em latim, traduzida para o francês por Paul Lacroix (ver nota 32). 26. Ernst Theodor [Amadeus] Hoffmann (1776-1882): escritor romântico alemão, criador do gênero fantástico, que iria influenciar toda a literatura europeia do período, em especial a francesa. Para mais informações, ver o anexo “O Arsenal” e a nota 6 de A mulher da gargantilha de veludo. 27. Henrique II (1519-59) reinou de 1549 a 1559 e Luís XV (1710-74), de 1715 até 1774. 28. Thot: deus egípcio do saber, inventor das fórmulas mágicas, da escrita e do cálculo. Mistérios isíacos: nome dado ao culto à deusa-mãe egípcia Ísis. 29. Jacques Cazotte (1719-92), autor do célebre Diabo apaixonado (1772), é considerado o criador da corrente fantástica francesa, tendo exercido especial influência sobre Charles Nodier (ver a Apresentação a este volume e o anexo “O Arsenal”). Morreu guilhotinado. 30. Larvas: na Roma antiga, fantasmas de pessoas assassinadas que voltavam para assombrar os vivos. 31. Alexandre Lenoir (1761-1839), arqueólogo francês, lutou contra o vandalismo revolucionário, sendo encarregado, pela Assembleia Constituinte de 1789, de salvaguardar as obras de arte, incluindo despojos de reis, então objeto de saques e depredações. Nomeado curador do Patrimônio Nacional, criou o Museu dos Monumentos Franceses, sediado, entre 1795 e 1816, no convento dos Capuchinhos (ver também nota 51). um decreto de 24 de abril de 1816, já sob o reinado de Luís XVIII (1755-1824), após a Restauração da monarquia, ordenou que as obras fossem devolvidas a seus proprietários ou locais de origem. 32. Pseudônimo de Paul Lacroix (1806-84), romancista prolífico, na linha de Walter Scott, que substituiu Nodier na biblioteca do Arsenal a partir de 1855. (Ver anexo “O Arsenal”.) Foi colaborador de Dumas em diversos títulos, entre os quais 1001 fantasmas e A mulher da gargantilha de veludo. 33. Edição princeps (em latim, “primeiro”) é a primeira edição impressa de um livro. 34. Em alemão, “uma aparição”, “um fenômeno”. 35. Mármore de grande transparência, proveniente da ilha homônima, situada no mar Egeu, muito apreciado por escultores gregos e romanos 36. Henrique III e sua corte, Christine em Fontainebleau e Antony: peças de grande sucesso do jovem dramaturgo Alexandre Dumas, levadas ao palco, respectivamente, em 1828, 1829 e 1831. 37. Marie-Anne-Charlotte de Corday d’Armont (1768-93), francesa que passará à história como a assassina do médico e revolucionário francês Jean-Paul Marat (1743-93), apunhalado na banheira de casa (ver nota 47). 38. Referência à “História de Sidi Numan”, contada por Sherazade ao sultão: “… vi então Amina com um gul. Sua Majestade não ignora que os guls de ambos os sexos são demônios que vagueiam pelos campos. Moram em geral em escombros de casas, dos quais se lançam de surpresa sobre os passantes, a quem matam e cuja carne comem. Na falta de passantes, vão aos cemitérios à noite regalar-se com a carne dos mortos, a quem desenterram.” 39. Samuel Thomas Sömmering (1755-1830): médico anatomista, paleontólogo e inventor alemão, cuja tese de medicina versou sobre os nervos cranianos. Entre seus correspondentes, estiveram Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), Immanuel Kant (1724-1804) e Alexander von Humboldt (1769-1859). JeanJoseph Sue (1760-1831): cirurgião, professor de anatomia e pai do célebre romancista Eugène Sue (1804-57). Escreveu um ensaio sobre a dor que subsiste à decapitação. 40. Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814), médico e político francês. Eleito deputado constituinte em 1789, apresentou um projeto de lei prevendo que “a decapitação fosse o único suplício adotado e que se procurasse uma máquina capaz de substituir a mão do carrasco”. Aprovado em 6 de outubro de 1791, o projeto vira lei, e, apesar dos protestos de Guillotin, a máquina, existente desde o séc.XVI, ganha seu nome. Testada em três carneiros e depois em três cadáveres humanos, em 15 de abril de 1792, a guilhotina fez sua estreia nove dias depois, decapitando o ladrão Nicolas Jacques Pelletier (a multidão decepcionou-se com a rapidez da execução). 41. Albrecht von Haller (1708-77), fisiologista e médico suíço que, além de dedicar-se à anatomia, foi um grande poeta e crítico literário do Iluminismo. 42. Comus ou Nicolas-Philippe Ledru (1731-1807), físico e prestidigitador francês, realizava apresentações de “física divertida” em seu consultório, apresentando “a mulher-autômato, que se veste como o público pedir; uma gaiola onde aparece o pássaro que se desejar; uma mão artificial que escreve o pensamento dos espectadores” etc. Fez uma turnê pela Europa, exibindo-se como “conde de Falkenstein”. 43. Alessandro Volta (1745-1827): físico italiano célebre por suas descobertas em eletricidade, entre elas a pilha voltaica. Luigi Galvani (1737-98): médico e físico italiano que tentou estabelecer os efeitos da corrente elétrica sobre os órgãos com vistas à sua utilização terapêutica. Franz Anton Mesmer (1734-1815): médico alemão, autor da controvertida teoria do “magnetismo animal”, que pressupunha a existência de um fluido universal em cada organismo, transmissível de um indivíduo a outro. Mesmer afirmava curar os doentes, mergulhando-os em sua famosa “tina” em Paris e provocando-lhes convulsões que restabeleciam o equilíbrio do fluido. uma dessas sessões é descrita por Alexandre Dumas em O colar da rainha. 44. José II (1741-90), imperador do Sacro Império Romano-Germânico a partir de 1765. Irmão da rainha da França Maria Antonieta, tentou usá-la para viabilizar sua política europeia. 45. Montanha: na Revolução Francesa, corrente política favorável à República. Dela fizeram parte, entre outros, Danton, Robespierre e Marat. Dominando amplamente a Assembleia e a Convenção Nacional, combateu tenazmente os girondinos, corrente mais moderada que representava a burguesia da província e cujos principais líderes foram guilhotinados pelo Terror, em 1793. 46. Georges-Jacques Danton (1759-94): um dos arautos da Revolução e personalidade bastante discutida. Grande orador do clube dos Capuchinhos (ver nota 51), faz parte do grupo da Montanha. Permite os massacres de setembro de 1792 e vota a favor da execução do rei. O caso que Dumas atribui-lhe com uma bailarina (ver A mulher da gargantilha de veludo) é pura ficção. Em outubronovembro de 1793, casado pela segunda vez logo após a morte da primeira mulher, encontra-se em sua região natal de Arcis-sur-Aube. Robespierre (ver nota 136 de A mulher da gargantilha de veludo), seu rival de sempre, aproveita-se de sua ausência para desacreditá-lo. Danton é preso em 30 de março e executado em 5 de abril de 1794. Camille Desmoulins (1760-94): advogado, jornalista e revolucionário francês. Eleito para a Convenção Nacional em 1792, vai se afastando cada vez mais dos radicais. Preso junto com Danton, é guilhotinado na praça da Revolução. 47. Jean-Paul Marat (1743-93), médico e jornalista francês, foi deputado na Convenção Nacional e considerado um dos responsáveis pelos Massacres de Setembro (2-7 de setembro de 1792), quando milhares de presos foram sumariamente assassinados, o que levou à radicalização do Terror. Morreu apunhalado na banheira de sua casa por Charlotte Corday (ver nota 37). 48. Antiga prisão na abadia de Saint-Germain-des-Prés, palco da execução dos guardas suíços (ver nota 82) e demais defensores da família real, em 10 de agosto de 1792. 49. Em francês, literalmente, “sem calções”: alcunha dada aos revolucionários oriundos das classes desfavorecidas da população e defensores da República igualitária. No lugar dos calções e meias dos nobres e burgueses, usavam calças compridas listradas em azul e branco, além de um barrete frígio vermelho. 50. O certificado de civismo, instituído pela Revolução Francesa, era uma espécie de carteira de identidade que atestava igualmente a ideologia do cidadão. Seu porte foi obrigatório até 1795. 51. Fundado em 1790, o clube dos Capuchinhos, ou Sociedade dos Amigos dos Direitos do Homem e do Cidadão, conservou o nome do convento onde instalou sua sede. É o clube de Marat, Desmoulins e, no início, de Danton, antes que este se bandeasse para os jacobinos. Após a morte de Marat, o clube radicaliza suas posições e conspira contra os jacobinos. Robespierre manda executar seus principais dirigentes. Fecha as portas em 1795. 52. François-Séverin Marceau Desgraviers (1769-96) lutou do lado dos republicanos na guerra da Vendeia, ocorrida entre 1792 e 1794 (ver nota 54). Nela conheceu o general Dumas, pai de Alexandre (1762-1806). 53. Jean-Baptiste Kléber (1753-1800), general dos exércitos revolucionários. Serve na Vendeia e na Alemanha. Acompanha Napoleão ao Egito e será assassinado no Cairo por um sírio. 54. Vendeia: departamento localizado na região noroeste da França, palco de motins camponeses, de tendência contrarrevolucionária, entre os anos 1792 e 1794. Tais conflitos ficaram conhecidos como “guerra da Vendeia”. 55. Insígnia nas cores azul, branca e vermelha, fixada na lateral do barrete usado pelos revolucionários franceses. 56. Não é para provocar um horror gratuito que enfatizamos esse tipo de assunto, mas nos parece que, no momento em que a abolição da pena de morte está na ordem do dia, tal digressão não seria ociosa. (Nota do autor) 57. O cemitério de Clamart, inaugurado em 1673 e destinado a receber os despojos de indigentes, ficou famoso por ter recebido os restos mortais dos condenados à morte, em especial os guilhotinados pela Revolução. Fechado em 1793, deu lugar a um Anfiteatro de Anatomia. 58. Criado em 1635 como “Jardim do Rei”, funcionou exclusivamente como jardim botânico até a Revolução Francesa, quando passou a se chamar Jardim das Plantas e a receber igualmente feras e animais exóticos, compondo um zoológico. 59. Castelos reais franceses, dos quais apenas Versalhes continua de pé. 60. O escocês Walter Scott (1771-1832), mestre do romance histórico, realizou uma viagem à França, em 1826, a fim de coletar dados para uma biografia de Napoleão. 61. Lorde-tenente: título honorífico concedido pelo monarca inglês a súditos ilustres. 62. Referência a um conto homônimo, de Prosper Mérimée (1803-70), narrando uma experiência paranormal de Carlos XI (1655-97), rei da Suécia. Pouco depois de perder a esposa, Carlos presencia uma cena de além-túmulo, na qual um morto-vivo profetiza desgraças futuras para o reino. Mérimée, que era também arqueólogo, foi um dos introdutores do gênero fantástico na literatura francesa. 63. Abadia de Saint-Denis: igreja que recebia os restos mortais dos reis franceses desde a Idade Média. 64. Essa profanação teve início em agosto de 1793, quando os caixões foram saqueados e as ossadas lançadas numa vala comum. Alexandre Lenoir conseguiu salvar as estátuas e lápides. uma restauração aconteceu em 1806, ordenada por Napoleão. Ver também nota 31. 65. Henrique IV (1553-1610), rei da França a partir de 1589, esteve no centro das “guerras de religião”, que opôs católicos e protestantes, o que o fez mudar várias vezes de lado antes de subir ao trono, terminando por aderir à fé católica. Morreu assassinado por um fanático e, postumamente, tornou-se um dos reis mais reverenciados pelos franceses. 66. João de Bolonha, ou Giambologna (1529-1608), escultor maneirista italiano. A escultura referida por Dumas é uma estátua equestre de Henrique IV, encomendada por Maria de Médicis (ver nota 70), e inaugurada em 23 de agosto de 1614, quatro anos após a morte do rei. 67. Peter Paul Rubens (1577-1640), pintor flamengo, passou quatro anos em Paris a pedido de Maria de Médicis (ver nota 70), que lhe encomendou cerca de vinte telas retraçando sua história. 68. Luís XIII (1601-43), rei da França a partir de 1610, seu reinado, indissociável da figura de seu principal ministro, o astucioso cardeal de Richelieu (1585-1642), caracterizou-se pela perda de poder dos protestantes e a guerra contra a Áustria. 69. Luís XIV, o rei-sol (1638-1715), rei da França a partir de 1643, filho de Luís XIII e bisavô de Luís XV. Seu reinado foi o mais longo da França e o mais prolífico em realizações artísticas e culturais, entre elas a construção do palácio de Versalhes. 70. Maria de Médicis (1575-1643): rainha da França entre 1600 e 1610, por morte de seu marido, Henrique IV, e regente em nome do filho Luís XIII até 1614. Ana da Áustria (1601-66): rainha da França entre 1615 e 1643, como esposa de Luís XIII, e regente em nome do filho Luís XIV até 1651. Maria Teresa (1638-83): rainha da França a partir de 1660, graças a seu casamento com Luís XIV, teve uma vida apagada, vítima dos constantes adultérios do marido. Grão-delfim ou “Monsieur”: título póstumo atribuído ao príncipe Luís da França (1661-1711), filho de Luís XIV e Maria Teresa. Ele nunca viria a reinar. 71. Luís XV (1710-74): rei da França a partir de 1715, seu reinado, marcado pelas intrigas palacianas urdidas por sua amante e futura esposa, a sra. de Maintenon (ver nota 21), foi tão mal-avaliado pelo povo que sua morte tornou-se motivo de festejos. 72. Trata-se, evidentemente, de Luís XVI, guilhotinado em 21 de janeiro de 1793 e cujos despojos foram enterrados no cemitério da Madeleine, numa vala comum, e cobertos com cal viva. 73. A duquesa de Châteauroux (1717-44), a sra. de Pompadour (1721-64) e a sra. du Barry (1743-93) foram amantes do rei Luís XV. O Parc-aux-Cerfs, bairro de Versalhes, foi o local escolhido pela sra. de Pompadour, após o fim de seu relacionamento com o rei, para instalar uma espécie de prostíbulo de luxo para ele. 74. Mão de marfim, com três dedos erguidos, fixada na extremidade dos bastões reais, símbolo da justiça dos monarcas. 75. Francisco I (1494-1547): rei da França a partir de 1515, é considerado o monarca mais representativo do Renascimento francês. Condessa de Flandres: Margarida I de Borgonha (1309-82). Filipe o Caolho (1292-1322): reinou sobre a França entre 1317 e 1322. 76. Jean-François Paul de Gondi (1613-79), cardeal de Retz, foi um político, memorialista e conspirador francês. Após sepultado, Luís XIV proibiu que lhe erguessem um monumento fúnebre, o que terminou por evitar a profanação de seu túmulo. 77. Valois e Carlos: dinastias de reis franceses. A dos Valois teve início com Filipe IV o Afortunado (1293-1350), e manteve-se no poder de 1328 a 1589; a dos Carlos, representando a carolíngia, tem como pedra angular Carlos Magno (747- 814), mas retroage até seu pai Pepino o Breve (714-68), cujo reinado iniciou-se em 751 e terminou em 1768 com a divisão do reino entre seus dois filhos, sendo o outro Carlomano (751-71), de curtíssimo reinado. 78. A dinastia dos Bourbon teve início em 1589, com Henrique IV (1553-1610), e foi a última antes da queda da monarquia, extinguindo-se definitivamente em 1793, com a decapitação de Luís XVI, aos 39 anos. 79. Cadeiras de espaldar alto destinadas aos eclesiásticos, no coro ou capela-mor de uma igreja. 80. Manopla: luva de ferro, que protegia os gladiadores e que, posteriormente, passou a integrar as armaduras de guerra da nobreza. 81. Cota de armas: revestimento até a altura dos joelhos, usado sob a parte superior da armadura de um cavaleiro, protegendo-lhe o peito e as costas. 82. Suíços: unidades de mercenários suíços contratados pelos soberanos para sua proteção. Foram comuns nas cortes europeias desde o séc.X até o XIX. 83. O sistema do abade Moulle parece reproduzir os principais aspectos da teoria do cientista e teólogo sueco Emanuel Swedenborg (1688-1772). 84. A construção da igreja teria sido iniciada por Roberto o Piedoso (972-1031), e não por Roberto o Forte (815/830-866). A confusão de Dumas talvez advenha de ela se chamar Notre-Dame-le-Fort, alcunha que recebeu devido às suas torres denteadas, típicas de um forte. 85. Martinho Lutero (1483-1546) e João Calvino (1509-64) foram os dois grandes teóricos e líderes da Reforma protestante. 86. A igreja de Saint-Jean-de-Vignes, localizada na comuna de Soissons e construída por iniciativa de Hugo o Grande (898-956), foi saqueada durante a Revolução; seus vitrais e os objetos de ferro acabaram vendidos, estes últimos à Casa da Moeda. 87. No Renascimento, acreditava-se que os pássaros voavam graças à força dos ventos. Amáquina pneumática (do gr. pneumatikos, “fôlego”, “alma”), ao criar o vácuo em seu interior, impediria o animal de voar. A pneumática consiste no emprego do ar na ciência e na tecnologia, comprimindo-o, expandindo-o ou, neste caso, eliminando-o. 88. Louis Dominique Cartousen, vulgo Cartouche (1693-1721): conhecido salteador, chegou a ter mas de 2 mil integrantes em seu bando e foi executado na praça de Grève. Jean Chevalier, vulgo Poulailler: famoso bandido do séc.XIII que atacava especialmente as mulheres. 89. Referência a Antoine Rossignol des Roches (1600-82), matemático que, devido a seu precioso dom de decifrar textos em código, foi chamado pelo cardeal Richelieu para trabalhar na corte. 90. Estêvão, considerado o primeiro mártir do cristianismo, acusado de blasfêmia após declarar ter visto Jesus Cristo, morreu apedrejado. O romano Saulo, perseguidor de cristãos, estava entre seus acusadores. Mais tarde, na estrada de Damasco, interpelado pela aparição milagrosa de Jesus (“Por que me persegues, Saulo?”), Saulo converteu-se, adotando o nome de Paulo (Atos dos Apóstolos, 7, 54-60; 9, 1-19). 91. Na realidade, Paulo foi decapitado. 92. Evangelho de são Lucas, 23, 42-43. 93. Chamava-se assim ao lugar onde se enforcavam os ladrões e assassinos. (Nota do autor) 94. A torre de Guinette, na cidade de Étampes, é um torreão único na arquitetura francesa, devido à sua estrutura quadrilobulada, isto é, com quatro lóbulos. 95. Diógenes Laércio (início do séc.III d.C.), em Vidas dos filósofos ilustres, conta que, para refutar a definição de Platão (428-348 a.C.), Diógenes o Cínico (413- 327 a.C.) passeou pelas ruas de Atenas com um galo nas mãos, bradando: “Eis o homem de Platão!” 96. Sobre Cazotte, ver nota 29. 97. A pedra filosofal (do lat. lapis philosophorum), objetivo último dos experimentos alquímicos, teria o poder de transformar metais em ouro, curar doenças e prolongar a vida humana. 98. Pitágoras de Samos (c.580-c.495 a.C.), filósofo e matemático grego. Segundo Porfírio (234-c.325 d.C.), em sua Vida de Pitágoras, este afirmava que “a alma é imortal … migra para outras espécies animais … em períodos determinados, o que foi renasce, nada é absolutamente novo. Devemos reconhecer a mesma espécie em todas as criaturas agraciadas com a vida”, o que ficou conhecido como a teoria da “transmigração das almas”. Para o conde de Saint-Germain e Cagliostro, ver nota 17. 99. A estância termal de Loèche-les-Bains (Leukerbad, em alemão) fica na Suíça, na parte alemã do cantão de Valais, e as propriedades de suas águas são conhecidas desde a Idade Média. Dista c.190 quilômetros da Basileia. 100. O termo “vampiro” proviria do servo-croata vampir, significando originalmente “espíritos que saem das tumbas para atormentar os vivos”. No fim do séc.XV, o mito do vampiro, já com o atributo de “bebedor de sangue do qual extrai sua força vital”, fortemente enraizado na cultura eslava, difundiu-se sobretudo a partir da Valáquia (região que forma atualmente o sul da Romênia), berço do príncipe Vlad Tepes Dracul (Vlad Empalador de Dragão, 1431-76). Cruel e sanguinário, este tornou-se o modelo geralmente utilizado na composição do “conde Drácula”, como, por exemplo, no Dracula, do escritor irlandês Bram Stoker (1847-1912), publicado em 1897 e fonte da lenda contemporânea. 101. Os montes Cárpatos formam a principal cordilheira da Europa central e ocupa os atuais territórios da Áustria, Eslováquia, Polônia, República Tcheca, Hungria, ucrânia, Romênia e Sérvia. 102. Cidade do sudeste da Polônia localizada às margens do Vístula. Na época em que se situa a ação, essa região do país achava-se sob domínio russo. 103. Ano em que o czar Nicolau I (1796-1855) sobe ao trono e endurece drasticamente a política russa com relação à Polônia ocupada. Em 1830, eclodirá a malograda insurreição de Varsóvia, a qual suscitará uma sangrenta repressão. 104. “Por ocasião da segunda divisão da Polônia”: Já desmembrada em 1772 entre a Áustria, a Prússia e a Rússia, a Polônia é objeto de duas outras divisões, em 1793 e 1795, que a desintegram completamente. Ela recuperou sua independência em 1918, após a Primeira Guerra Mundial. Sarrastro: área localizada na região oriental dos Cárpatos, ou seja, na atual Romênia. 105. Cidade da Rússia situada ao norte de Moscou, conhecida por suas manufaturas. 106. Maior rio da Polônia, nasce nos montes Cárpatos e deságua no mar Cáspio. 107. Rio da Transilvânia (Romênia), cuja nascente situa-se nos Cárpatos. 108. O morlaco, ou dálmata, é uma língua extinta falada pelos habitantes do norte da Dalmácia, litoral da atual Croácia. 109. Ilíria: antigo reino que, nos dias de hoje, abrange parte da Croácia e a totalidade dos territórios da Eslovênia, da Albânia e do Kosovo. 110. Iatagã: sabre com a ponta curva, de origem turca. 111. Esse poema reproduz uma balada intitulada “O vampiro”, que faz parte de La Guzla, de Prosper Mérimée (1827), miscelânea de lendas e poemas da Europa central. 112. Os Brancovan eram uma família nobre da Valáquia, a qual gerou uma dinastia de príncipes, o mais famosos deles sendo Constantino Brancovan (1654- 1714), que morreu decapitado após ser derrotado por Dimitri Cantemir (1623- 73), príncipe da Moldávia. 113. Rafael Sanzio (1483-1520), pintor italiano renascentista, usava um gorro peculiar, como mostra seu autorretrato de 1506, exposto no palácio Uffizi, em Florença. 114. Trata-se de uma balada de Gottfried August Bürger (1747-94), objeto de duas traduções na França, uma em prosa (1829), outra em versos (1830), ambas realizadas pelo escritor e poeta Gérard de Nerval (1808-55). A balada descreve a cavalgada de uma adolescente na garupa de um misterioso cavaleiro, que ela julga ser seu noivo de volta da guerra, mas que no fim revela-se seu fantasma, que a carrega junto com ele de volta para o túmulo. Essa obra marcou fortemente o romantismo europeu. 115. Cantemir: dinastia reinante na Moldávia, inimiga dos Brancovan. Ver também nota 112. Pedro I (1672-1725): czar que imprimiu um caráter expansionista à política russa. 116. Nichan: ordem honorífica otomana. Mahmud (1696-1754): sultão do Império Otomano a partir de 1730. 117. Gênesis, 4, 9. 118. A sangria é terapia antiga, consistindo em retirar determinada quantidade de sangue do corpo do paciente por meio de ventosas ou sanguessugas. 119. Godofredo de Villehardouin (c.1148-c.1213) participou da Quarta Cruzada (1202-04), e portanto da tomada de Constantinopla, capital do Império Bizantino. A conquista e saque da cidade, em 1204, foi o acontecimento mais marcante daquela cruzada e deu início ao chamado Império Latino (1204-61). Godofredo foi nomeado marechal do novo império. Aparentemente morreu por volta de 1213, quando seu nome desaparece das fontes da época. Balduíno I de Constantinopla (1172-1205), Balduíno IX da Flandres, imperador em 1204-05. 120. Pope: sacerdote da religião ortodoxa russa. 121. Referência ao drama Don Juan de Tenorio, de José Zorilla (1817-93), em cujo segundo ato o espectro do comendador, pai da noiva de don Juan e por ele assassinado, aparece para conduzi-lo ao inferno. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário