segunda-feira, 30 de outubro de 2017

T2 N° 418 : A LENDA DO FANTASMA

A LENDA DO FANTASMA

LEE FALK

Título original:The Story of the Phantom: The Ghost Who WalksAno de lançamento: 1972

Dedico este livro às três autoridades mais abalizadas em assuntos de fantasma, que existem no
mundo inteiro — os meus filhos Valerie, Diane e Conley.
LEE FALK



Prólogo - O INÍCIO DA HISTÓRIAHá mais de quatrocentos anos, um grande navio mercante britânico foi atacado por piratas de Singg,
quando navegava nas proximidades da costa de Bengala. O capitão do navio era um navegante famoso,
que em sua juventude servira como camaroteiro de Cristóvão Colombo em sua primeira viagem para
descobrir o Novo Mundo. O capitão levava consigo também seu filho Kit, um jovem robusto que
idolatrava seu pai e esperava seguir-lhe o exemplo como navegante. O ataque dos piratas foi funesto e
desastroso. Numa batalha encarniçada, toda a tripulação do navio mercante foi morta e a nave naufragou
devorada pelas chamas. O único que conseguiu salvar-se foi Kit que, ao safar-se do navio em chamas,
deparou com seu pai morto por um pirata. As águas do mar levaram Kit, meio sem vida, até à praia, onde
pigmeus pacíficos o encontraram e cuidaram dele até recuperar-se.
Certo dia andava Kit pela praia, quando deu com um pirata estirado e morto, vestindo as roupas que
eram do seu pai; logo imaginou que só podia ser aquele que havia matado seu pai. Tomado de profunda
tristeza e dor, esperou até que os abutres descarnassem todo o corpo do morto e lhe devorassem as
últimas vísceras. Quando mais nada restava senão puro esqueleto, diante da caveira do assassino do seu
pai fez Kit um solene' juramento, na presença dos anões amigos e ao clarão de um fogo que havia
acendido. O juramento rezava: "Juro que dedicarei toda a minha vida à tarefa de destruir a pirataria, a
ganância, a crueldade e a injustiça e meus filhos e os filhos de meus filhos me perpetuarão".
Foi este o célebre Juramento da Caveira que Kit e seus descendentes iriam perpetuar. Passado um
certo tempo, os pigmeus o levaram para a sua moradia na Floresta Negra, que ficava no centro da selva,
onde encontrou uma caverna enorme com muitos compartimentos feitos na rocha. A boca da caverna era
uma formação natural produzida pela erosão das águas no decorrer dos séculos e tinha a curiosa
aparência de uma caveira. Kit passou a residir ali, na Caverna da Caveira. Imediatamente passou a usar
uma máscara e a vestir um traje estranho. Notou que o ar de mistério e o medo que esta sua indumentária
incutia ajudavam-no em sua luta sem quartel contra a pirataria que se alastrava por toda parte. Haja vista
que ele e seus filhos se tornaram conhecidos como o flagelo dos piratas que infestavam todas as regiões,
um homem misterioso cujo rosto ninguém jamais conseguiu ver, um personagem que só trabalhava
sozinho e que ninguém sabia como se chamava. Era um verdadeiro fantasma.
Os anos se passavam e lá seguia ele no combate a toda sorte de injustiça onde quer que deparasse
com ela. O primeiro Fantasma e os filhos que deixou como descendentes casaram-se com mulheres de
diferentes condições sociais e de regiões diferentes. Um casou-se com a rainha que governava um país,
outro contraiu matrimônio com uma princesa, enquanto que um terceiro desposou uma linda garçonete de
cabelos vermelhos. Tanto as consortes de sangue azul como as plebeias, todas foram residir com seus
esposos na Floresta Negra, levando a vida estranha porém feliz de esposa de um Fantasma. Somente a
esposa e os filhos podiam ver o rosto do Fantasma, e mais ninguém neste mundo.
Geração após geração a prole se sucedia, atingia a maioridade e assumia as tarefas do pai diante
dele. Cada um punha a máscara e vestia o estranho traje. Os habitantes da selva, da cidade e do mar
começaram a espalhar o boato, de boca em boca, de que havia um homem que não podia morrer, um
Fantasma, um Espírito-Que-Anda, uma espécie de assombração. Isto, porque achavam que o Fantasma
era sempre o mesmo homem. Uma criança que tivesse visto o Fantasma tornaria a vê-lo cinquenta anos
depois, sempre o mesmo. E repetiria a mesma história para os seus filhos e seus netos e toda sua
descendência continuaria a ver o Fantasma pelos tempos afora, garantindo que era sempre o mesmo
Espírito-Que-Anda, o Fantasma.
O Fantasma não se preocupou em desencorajar esta crença de que ele nunca morreria. Sempre
trabalhando sozinho em situações tremendas, que às vezes assumiam aspectos quase épicos e incríveis,

percebeu que o pavor e medo que a lenda inspirava eram-lhe de grande valia em sua luta sem tréguas
contra o mal. Somente seus amigos pigmeus sabiam da verdade. A fim de compensar a sua estatura
nanica, os pigmeus impregnavam de venenos mortais as suas armas, quando as usavam para caçar ou para
se defender, embora fossem poucas as vezes em que eram obrigados a proteger-se a vida. Entre os
habitantes da selva não havia Quem não conhecesse esses venenos mortíferos; por isso tanto eles como a
sua moradia, a Floresta Negra, eram temidos e evitados. Logo correu também a notícia de que o Fantasma
morava na Floresta Negra — o que constituía outro motivo para que ninguém se atrevesse nem pensasse
em pôr os pés nela; daí mais uma razão para se manterem afastados desse local misterioso.
Com o decorrer dos tempos os Fantasmas criaram diversas moradias ou paradeiros secretos em
várias partes do mundo. Perto da Floresta Negra ficava a Ilha do Éden, onde o Fantasma ensinava a todos
os animais a viverem em paz. Numa região muito elevada do deserto, no sudoeste do Novo Mundo, o
Fantasma construiu uma moradia no topo de uma meseta alta e alcantilada. Os indígenas diziam que esse
monte de cume achatado era frequentado por espíritos maus e por isso passou a chamar-se a "Mesa de
Walker", devido ao Espírito-Que-Anda. Na Europa, nas profundezas de porões que se desmanchavam em
pedaços de tão velhos de um antigo castelo em ruínas, o Fantasma possuía outro esconderijo, do qual
partia para desferir seus ataques contra os malfeitores.
Mas a moradia verdadeira do Fantasma era a Caverna da Caveira, situada no sossego e placidez da
Floresta Negra. Aqui, num compartimento talhado na rocha, guardava ele suas crônicas: eram relatos
escritos de todas as suas aventuras e peripécias. Todos os Fantasmas que se sucederam registravam com
fidelidade as suas façanhas nesses volumosos tomos. Noutro aposento estavam os trajes de todas as
gerações de Fantasmas, enquanto que noutros quartos conservavam-se os imensos tesouros e
preciosidades que o Fantasma adquirira durante séculos e que somente usava em sua luta incessante
contra o mal.
Foi assim que uma verdadeira dinastia de vinte gerações de Fantasmas viveu, combateu e morreu —
geralmente empenhados em lutas violentas — mas sempre fiéis ao juramento que haviam feito. Os
habitantes da selva, os marinheiros e a gente da cidade sempre acreditaram que era o mesmo homem, o
Homem-Que-Não-Podia-Morrer. Apenas os anõezinhos sabiam que haveria de chegar um dia em que o
seu grande amigo seria vencido pela morte. Então nesse dia um filho jovem e forte levaria, sozinho, o
corpo do seu pai para a cripta funerária de seus ancestrais onde todos os Fantasmas dormiam o sono da
morte. E, diante dos pigmeus que aguardavam do lado de fora, o jovem surgiria na boca da caverna,
revestido do traje estranho, a máscara vedando-lhe o rosto e a sineta do Fantasma na testa. Assim é que
terminavam os dias felizes, despreocupados e pacatos de filho do Fantasma. E quando o novo Fantasma
assomava na entrada da Caverna, os anões entoavam a tradicional litania: "O Fantasma está morto. Viva
o Fantasma!"
Nesta sucessão de fatos chegamos a um dia alvoroçado e emocionante na vida da vigésima geração
de Fantasmas: o dia do nascimento de uma criancinha homem. E é justamente este garotinho que irá
crescer e tornar-se o vigésimo primeiro Fantasma, o Fantasma de nossos dias, cujas façanhas e proezas
conhecemos e acompanhamos com empolgação e entusiasmo. A estória que em seguida passamos a
contar constitui todo o enredo que teceu a sua existência, desde os dias de sua meninice até se tornar
conhecido como o Homem-Que-Não-Pode-Morrer, o Espírito-Que-Anda — o Fantasma.

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