segunda-feira, 30 de outubro de 2017

T2 N° 434 : A LENDA DO FANTASMA

11 - O CAMPEÃO  



Kit esteve ocupado na Academia Clark, dividindo seu tempo entre estudos e esportes; assim quatro
anos se passaram. Kit cresceu nesse período, tanto física quanto mentalmente. Estava alcançando sua
estatura definitiva, suas espáduas cresciam e seus músculos se ressaltavam. Sua habilidade nos vários
esportes aumentava. A fama de "superaluno" aumentava. Ofertas de equipes atléticas universitárias
começaram a chegar das maiores faculdades e universidades. Escoteiros, bacharéis e técnicos
começaram a rondar os vestiários e até a casa de Carruthers, tentando descobrir seu preço. Sua tia Bessie
e seu tio Efraim gostaram disso. O severo homem estava orgulhoso de seu sobrinho e estava
presentemente aprendendo a sorrir. Kit rejeitou todas as ofertas. Viera à América principalmente para
obter educação. Esportes eram coisas secundárias. Ingressou numa faculdade pequena situada nas
proximidades da floresta do norte e que oferecia especializações em silvicultura, posto que seu interesse
natural se concentrava neste campo: ele se formou com as mais altas honras escolares na Academia Clark
e tanto corpo discente como docente da faculdade sentiram muito quando ele se foi. Ele tinha posto os
obscuros garotos da escola no mapa. A Universidade Harrison tinha que ter uma experiência similar.
Sua chegada à modestíssima Universidade foi anunciada pelo jornal do colégio e o jornal local da
cidade. Não passou muito tempo desde que o estranho garoto estrangeiro começasse na escola para que
sua fama logo o seguisse: "a maravilha da escola", detentor de uma dúzia de troféus escolares nas
competições, campeão de box e salto de obstáculo, astro do futebol. As notícias da seleção de Kit na
Universidade Harrison tinham influenciado outros atletas de ginásio a escolher a pequena escola. O
núcleo de um bom time chegou junto com ele numa escola cujos times tinham sido sempre obscuros e sem
importância.
Ele retomou onde havia parado em Clark. Sob sua jovem liderança, os times de Harrison liquidaram
seus tradicionais adversários — colégios menores como eles próprios — e seus pequenos estádios
ficavam inundados de pessoas e eram inadequados.
A televisão nacional e as equipes de rádio chegaram a difundir esses obscuros jogos, tudo por causa
do fenomenal Kit Walker, Horários foram apressadamente rearranjados. No espaço de um ano, os times
de Harrison foram convidados para os maiores estádios de costa a costa. Seus times entraram nos
encontros nacionais. Até as equipes de boxe das universidades maiores — normalmente esportes
menores relegados para um canto do ginásio — necessitaram quadras maiores para os fãs. Parecia que o
mundo inteiro queria ver Kit Walker.
Ele caminhava todo-poderoso pela nação e tornou-se o eleito do ano na América. Agora, membros
dos times profissionais de futebol frequentavam os quartos fechados, como os membros do colégio
haviam feito em Clark. Nos concursos, Kit começou a quebrar todos os recordes, em seguida recordes
nacionais e então recordes internacionais. Treinava para o grande concurso e era visto como o futuro
campeão. Um lutador de boxe pesos leves nos seus anos de calouro, ele passou para peso pesado logo no
ano ulterior e dominava todas as divisões, permanecendo invicto. Isto interessou promotores e
empresários profissionais. Eles lhe disseram que ele poderia ter um futuro no mundo do boxe. Como
havia feito com os empresários do futebol, livrou-se deles delicadamente.
Seus cursos, particularmente zoologia, e matérias como botânica, o fascinavam. Estava se
informando cientificamente a respeito das plantas e animais que conhecia há muito.
O colégio não era apenas estudos e esporte. Havia uma vida social ativa, como em todo campus. As
atividades de Kit o mantinham ocupado, mas ele ia a bailes e festas. As garotas se sentiam atraídas por
ele e ficavam surpresas por o encontrarem cheio de timidez e modéstia e nada fácil para elas. Não
entendia de garotas, nem as da selva, nem as da Academia Clark e nem as de Clarksville. Ele dispunha de

uma cortesia para com todos o que encantava as moças, porém não manterá quaisquer romances nesses
dois primeiros anos. Ocupado demais talvez; ou esperando por alguém. Quem? Ele não sabia.
Ele teve uma ideia de "quem era" durante as férias do Natal no seu terceiro ano. Por essa ocasião, as
revistas, a televisão, e os jornais haviam tornado seu rosto familiar. Viajando para casa de ônibus, ele
tentava dormir, mas os caçadores de autógrafos e os fãs tornaram tal coisa impossível. Quando chegou à
casa dos Carruthers, as crianças dos vizinhos encheram o quintal, esperando vê-lo. Bessie e Efraim
estavam tão orgulhosos quanto pavões. Houve um baile de véspera de Natal no clube de campo e eles
ficaram ansiosos para mostrarem seu famoso sobrinho. Ele hesitou. Esse lugar tinha estado fora dos seus
limites e cogitações nos primeiros meses por causa de Gurã e ele sempre se recusara a ir em busca dele.
Mas seu tio e sua tia estavam tão orgulhosos e felizes que ele sentiu que teria que ir agradá-los.
Uma multidão o cercou no bar enquanto ele tomava suco de frutas. O lugar era decorado com um
colorido de estação e pinheiros cobertos por lâmpadas pródigas de luz. A música vinha do cômodo ao
lado onde os casais estavam dançando. Kit estava entediado e precisava dormir, mas se mostrava cortês
e polido em relação a todas as perguntas. Uma esguia garota de cabelos negros foi trazida até ele pela
sorridente tia Bessie. Ela tinha dezesseis ou dezessete anos, vestia-se com simplicidade e mostrava um
sorriso tímido nos lábios perfeitos. Era a mais linda garota que Kit já vira.
— Sabe quem é ele? — perguntou tia Bessie com alegria, gritando sobre o ruído produzido pela
música e as vozes.
Kit olhou para ela com vontade. Tinha havido muitas garotas bonitas em todos os jogos e reuniões,
apresentações rápidas, danças curtas, multidões eternas de garotas bonitas, mas nenhuma como esta.
— Sinto muito — ele começou a dizer.
— Você parou de fugir de casa — ela disse. — Atingiu alguma outra coisa com seu arco e flecha. —
Sua voz era baixa e agradável e ela mostrou-se dona de um riso delicioso quando viu a confusão que
causava nele.
— Oh, garoto tolo, esta é Diana Palmer, não se lembra? — disse tia Bessie.
A garotinha com os dois dentes faltando na frente. Uma grande fita vermelha no cabelo. A pantera
negra. Ela morava na cidade ao lado, mas ele não a tinha visto desde aquele dia.
— Como você cresceu — ele disse.
— Você também — ela disse, olhando para o jovem gigante.
Ela tinha apenas oito anos quanto ele a salvara naquela tarde dramática. O choque do acontecimento
o havia bloqueado em grande parte na mente dela, assim a moça se lembrava muito pouco. O que ela
realmente lembrava era o que ouviu dos pais e outras pessoas e a partir do que leu mais tarde no velho
jornal que sua mãe havia guardado. De tempos a tempos, ela relancearia Kit na rua ou num cinema, mas
ele nunca a notara. Afinal, ele era um sujeito grande, e cumpria sua carreira de esportes avidamente
enquanto se encontrava em Clark e depois em Harrison. Ela ficava emocionada toda vez que via
fotografias dele no jornal ou ouvia as pessoas discutirem sobre ele. Sem compreendê-lo, estivera
apaixonada por ele por todo o tempo que podia lembrar. Ele era seu Príncipe Encantado, embora de certa
forma nunca esperara encontrá-lo de novo.
Mas dado ao sucesso nos esportes, ela própria se tornou interessada. Tornou-se hábil montando
cavalos e em tênis, e logo teria um breve. E acima de tudo, gostava de nadar. Na sua escola, natação e
mergulho eram uma especialidade porque tinham já abiscoitado um recorde olímpico. A partir dos doze
anos, Diana ficou sob tutela. Logo mostrou-se excelente em corrida, incentivada pela constante
publicidade de Kit. Mas sua especialidade era mergulho. Sua escola reconhecia sua habilidade e prazer
que tinha em mergulhar — os dois ingredientes necessários — e devotava muito tempo a ela. Ela
começou a ganhar faixas e troféus e foi designada para a competição olímpica para um dia do futuro
próximo, quando ela obteria uma medalha de ouro de campeã.
Kitj se lembrava da menininha que se tinha dirigido a ele e Gurã no banco de areia. — Estavam os

dois completamente nus — ela disse, com seu riso delicioso. Ele também se lembrava dolorosamente da
garotinha soluçando e ficando sufocada, arrastando-se de joelhos para longe da aterradora pantera. A
menina nos seus braços tomada por soluços. Agora ela estava em seus braços de novo à medida que
dançavam nesta noite de Natal, e seu lindo corpo estava trêmulo de novo, desta vez pelo riso enquanto
lembrava como ele e Gurã "se vestiam" com panos sobre os lombos.
Kit não estava mais entediado e com sono. Dançaram e comeram juntos e ele a viu todas as noites
durante aquelas férias. No fim dessa época, ela sabia tão pouco a respeito do seu passado quanto no
começo, pois ele falava muito pouco sobre sua terra natal. Apenas mencionou rapidamente que sua mãe
tinha morrido e seu pai vivia ainda sozinho em alguma parte. Mas aprendeu muito a respeito dele mesmo,
sua modéstia, talento e cortesia. Percebia muito naquele jovem, um caráter de aço que ela respeitava e
admirava e agora sabia que o havia amado desde o primeiro momento em que tinham se encontrado.
Quanto a Kit, ele estava esperando por alguém. E a encontrara. Diana.
Ela estava no seu último ano do curso secundário, numa escola feminina, de modo que se viram
muito pouco durante os meses seguintes. Mas ela continuou acompanhando a carreira dele atentamente
nos jornais. Naquele verão, passaram algumas semanas juntos antes que Diana fosse para a Europa com
sua mãe. Passaram esses cálidos dias de Junho nadando e passeando de canoa num lago próximo e
fizeram piqueniques ocasionais com amigos de escola às margens do Mississippi. Havia uma piscina
olímpica num pequeno colégio perto de Clarksville e eles foram até lá para praticar mergulho do
trampolim mais alto. Kit era muito bom nisso, tendo recebido lições do seu pai. Mas Diana estava
próxima da perfeição. Dispunha de todo o estilo e controle de um ganhador da medalha de ouro olímpica,
o que ela brevemente se tornaria. Se sua forma em mergulho era quase perfeita, suas formas num biquíni
eram absoluta perfeição, seu talhe era aquele sonhado por todos os homens. Sendo jovem, sonhava com
Diana, mas o sonho era sempre perturbado pela incerteza e mistério de seu próprio futuro.
Ela se foi, prometendo vê-lo tão logo voltasse no outono, deixando um vazio em sua vida. Ele foi
então para as florestas do norte para um emprego de verão assegurado através do Serviço Florestal. Foi a
primeira chance que teve de voltar à glória da floresta. Vida silvestre, dias a cavalo, noites à Fogueira,
dormindo ao relento. Reminiscencias da vida na selva retornaram fortemente neste verão. Mas voltou
para Harrison para praticar futebol sendo que seu último ano havia começado.
Agora, como Kit havia competido por todas as pistas do país, alcançou o status de um ídolo
desportivo nacional. Seu rosto aparecia em capas de revista e seu nome era corrente em qualquer lugar
onde houvesse aficcionados do esporte. Algumas dessas notícias alcançaram a Floresta Negra, fazendo-o
receber uma carta de seu pai que simplesmente repetia; "Não esqueça seus livros." Aquele mundo
longínquo estava semi-esquecido agora. Estava tão ligado ao presente. Graças a Kit e seus colegas as
matrículas na Universidade de Harrison triplicaram. Um vasto programa de expansão da universidade
estava em projeto, e um gigantesco estádio era erguido nos arredores da cidade.
Uma coisa fantástica aconteceu um dia, no início da primavera. O campeão mundial de pesos
pesados estava de passagem pela cidade a caminho de uma grande luta. Pelo seu itinerário, seus
empresários planejaram uma parada na cidade e um treino no ginásio de Harrison. Junto com o famoso
campeão havia diversos sparrings. Mas o empresário e sua equipe ouviram falar sobre o grande atleta
Kit Walker, que entre outras coisas era detentor do título de campeão intercolegial de pesos pesados. Kit
era celebrado como verdadeiro campeão e o empresário decidiu que era boa publicidade se seu atleta
pudesse lutar um round com o menino prodígio.
Kit não estava propenso a isso, que significava perder uma aula prática de Botânica, mas concordou
quando os promotores lhe pediam que o fizesse como um favor à escola. A noticia se espalhou pela
universidade. B chegou até o rádio a televisão e os jornais, e o ginásio ficou lotado. E o que era
supostamente um treino transformou-se num acontecimento excitante.
O campeão se divertia com toda a excitação e seu empresário estava deliciado. O motivo foi

publicidade. Percebeu câmaras de televisão, microfones, flashes — satisfeito. A luta vindoura
necessitava de publicidade. Este era o ponto. — Vá com calma com o rapazola — disse ele ao campeão.
O campeão consentiu sorrindo. Estudante ou não, pretendia fazer bonito frente à multidão e câmaras.
O tablado foi montado no centro do ginásio. Havia arquibancadas provisórias nos quatro lados. O
grande ginásio, usado para basquetebol e outros esportes, comportava cinco mil pessoas, sendo que
estava completamente lotado. Toda a escola e a cidade estavam lá. O primeiro a subir no tablado foi o
campeão, recebido com muitos aplausos da platéia. Esperava pacientemente com seu empresário e seus
segundos. Onde estava Kit? Não se faz o campeão esperar. Estava com medo? A multidão murmurava.
Foi então que Kit entrou no ginásio e pulou as cordas. A multidão delirava. O campeão percebeu
chateado que este delírio foi muito maior que o que causara.
— Perdoe-me, disse Kit, tentando calçar suas luvas. — Tive um exame de Botânica. Vim o mais
rápido que pude.
— Botânica é algo sobre flores — explicava o empresário ao campeão.
— Vai precisar delas — grunhiu o campeão.
— Vá com calma — disse o empresário. — Isto é só um treino.
— É lógico, disse o campeão. Os modos gentis de Kit o haviam irritado. Não é todo dia que um
amador boxeia com o campeão mundial. Um garoto inteligente. Todos seus amigos gritando para que "ele
o derrubasse"! Estavam brincando?
O treinador de Kit ajudou-o com as luvas, um colega amarrou suas sapatilhas. Seu treinador de boxe
pediu silêncio e anunciou a luta pelo microfone. — Façamos de conta que estamos no Madison Square
Garden — disse ele e a multidão riu. — À minha direita o campeão mundial de pesos pesados.
— O campeão se abaixou para regozijo da multidão. Havia algumas vaias e o campeão ficou
zangado. — Neste lado, nosso Kit Walker. — A multidão explodiu numa tremenda ovação. O campeão
sorriu. Todos estavam torcendo para aquele estudante.
— Este é um treinamento para o campeão para sua próxima luta — disse o treinador. — Esperemos
que ele tenha piedade de nosso Kit. Precisamos dele. — A multidão riu, os outros deixavam o tablado e
alguém tocava o gongo também causando riso.
O campeão olhou seu oponente com cuidado, era grande e forte, mas a maioria dos pesos pesados
era assim e ele se movimentava bem. Está bem, disse a si mesmo. Vamos em frente. Trocaram os
primeiros golpes. Kit não tinha intenção de lutar para valer. Aquilo era um favor, um trabalho para um
lutador profissional. As câmaras estavam presentes. O campeão notou isso à medida que rodeava Kit.
Subitamente desferiu um golpe que Kit bloqueou apenas parcialmente. Depois um outro, jogando-o contra
as cordas: O empresário mastigava seu charuto nervosamente. O que o campeão esperava provar
esmurrando o estudante? A multidão observava, não tomando ainda esta luta por verdadeira: Kit também
não tinha certeza acerca disto. Num clinch, o campeão atingiu-o bem abaixo da cintura e murmurou: —
Vamos lá, estudante.
Kit reagiu imediatamente. Recuou e começou a saltitar em redor do campeão, aparou os golpes do
campeão e atingiu-o duramente. O campeão sacudiu a cabeça e sorriu. — Isto é tudo que pode fazer
estudante? — balbuciou e acertou Kit violentamente mandando-o novamente contra as cordas. Kit dançou
novamente. Este homem era mais duro que qualquer outro que ele tinha enfrentado. O campeão mundial.
Mas tinha a impressão que o assustava, sentia que podia cuidar dele: Devolveu os golpes. E começaram
a se estudar. A multidão começou a vibrar. O empresário gritava. Mas nada deteria o campeão.
Compreendera agora que este estudante não era presa fácil.
Era maciço, forte, habilidoso. E o campeão era precisamente isto, também. Acercou-se de Kit
novamente e durante um clinch rápido murmurou um palavrão em seu ouvido. Este tinha algo a ver com
sua mãe. Kit permaneceu calmo. Poderia controlar o assassino que estava dentro dele, agora. Mas seus
punhos explodiram no maxilar do campeão e este já cambaleava dobrando seus joelhos. O empresário

tentava pular as cordas a fim de pará-los, vários colegiais barravam o caminho. — Ele quer uma luta —
gritavam. — Deixe-os lutar.
Era raro para aquele campeão ter mesmo um só joelho no chão e o fato foi fartamente registrado pela
televisão e os repórteres dos jornais. Mas isto não foi tudo. Tentava manter-se em pé, decidido a acabar
com o astro em potencial. Kit atingiu-o duramente no estômago, um tremendo golpe que poderia ser
ouvido até no laboratório de Botânica. A multidão vibrou. Quando o campeão se curvou tomado pela dor,
Kit o acertou três vezes no maxilar. Seus punhos movimentando-se como martelos. O campeão caiu como
um daqueles velhos carvalhos que Kit havia cortado no verão anterior. Atingiu a lona produzindo um som
cavo. Silêncio no grande ginásio. Ninguém tivera nocauteado o campeão, muito menos daquela forma e
ele estava fora de combate mesmo: Kit ajudou o empresário desesperado e os outros a carregá-lo por
sobre as cordas do tablado. Em seguida esperou enquanto o médico do campus examinava o campeão
inconsciente. Este abriu os olhos e grunhiu alguma coisa. O médico disse-lhe que o campeão estava tonto,
mas em boas condições. Kit, esperando impacientemente junto das cordas, sorria daquilo. A multidão que
observava abria caminho agora. Foi como o estrondejar de vagas na praia. Urravam e gritavam feito
loucos e conseguiam rir também. O seu Kit havia derrotado o campeão mundial de maneira admirável.
Os espectadores de televisão de todo o país tinham observado o curto embate em sessenta milhões
de salas de estar aquela noite. A imprensa mundial noticiava o acontecimento, com páginas completas
com fotografias que gravaram a ação no tablado.
Quanto Kit deixou o chuveiro no vestiário, o empresário estava esperando por ele com um contrato,
o combate vindouro do campeão tinha sido adiado até que se recobrasse do castigo infligido a ele.
Quanto a Kit, o céu era o limite — o empresário lhe assegurou. Podia fazer milhões. Kit lhe agradeceu,
mas disse que não estava interessado em carreira profissional daquela espécie. Antes que o campeão
deixasse o ginásio ainda insistiu em ver Kit. Dizia que todos esperavam aquele encontro com
sofreguidão. Kit estava enrolado numa toalha e os fotógrafos à sua volta registravam todos seus
movimentos. Microfones o cercavam. A cara do campeão estava seriamente estragada e seu maxilar
deslocado.
— Sam disse que você recusou sua oferta. — Disse olhando para o empresário nervoso a seu lado.
— Não sei porque mas fico feliz por isto: Você é demais! — disse sorrindo e estendendo a mão. Kit
sorriu e apertou sua mão. A multidão gritou concorde.
A publicidade em torno da luta preocupou Kit. Esperava que não alcançasse seu pai na Floresta
Negra, e desse ao Vigésimo a ideia de que estava esquecendo seus livros.
  

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