segunda-feira, 30 de outubro de 2017

T2 N° 437 : A LENDA DO FANTASMA

14 - O DESAPARECIMENTO DE KIT
WALKER
  


O dia amanheceu límpido, fresco e lindo. Tempo excelente para o grande acontecimento. A nova
praça de esportes fervia de gente; as doze bandas marciais das escolas superiores a postos; atletas,
cantores, senadores, deputados, prefeitos e altos dignitários e os cinquenta mil amigos e parentes. Era o
Dia ãe Kit Walker. Bandeiras por cima da avenida. Bandeiras e mais bandeiras em dezenas de caminhões
fretados trazendo gente de todas as partes do estado estacionados em filas no lado de fora da praça de
esportes. Tia Bessie e tio Efraim na tribuna de honra reservada para Kit, esperando o homenageado.
Diana chegaria em companhia dele. Mas Diana não veio. Nem Kit apareceu.
Bandas e convidados, senadores e deputados, prefeitos e todos os amigos, fãs e parentes: esperando.
Todos os olhares centrados na tribuna de honra. Tia Bessie estava preocupada. Tio Efraim ia se
impacientando cada vez mais à medida em que o tempo corria. — Será que fugiu de novo? — perguntou
baixinho. Efraim nem podia imaginar que tivera um palpite certo. Foram feitas ligações telefônicas,
seguidas de buscas dos estudantes em seu quarto. Todas as suas roupas e livros estavam lá, tudo muito
bem arrumado. Alguém pensou em inquirir Diana. Chegara a informação de que ela estava com dor de
cabeça e que não poderia receber ninguém. Não, ela não sabia nada a respeito do seu querido Kit
Walker.
A esta altura a impaciência se transformou em alarme. Que lhe teria acontecido? Telefonaram para
os hospitais; deram alarme à polícia; telegrafaram e irradiaram boletins informativos. Mas, onde anda Kit
Walker? Acidente? Será que gangsters o sequestraram? Centenas de pessoas o tinham visto passeando na
noite anterior. Muitos o viram quando acompanhou Diana ao retirar-se para o seu dormitório. Amigos
viram quando ele entrou no seu quarto naquela noite. O Dia de Kit Walker estava sendo um fiasco.
Bessie e Efraim resolveram sair para dar buscas do sobrinho. A comissão de festejos decidiu que as
comemorações deviam continuar, a fim de não decepcionar os visitantes. Por isso as bandas tocaram e
marcharam, os políticos deitaram falação e todos continuavam com a atenção voltada para a tribuna de
honra enfeitada com bandeiras e bandeirolas. Mas pairava um ar de vazio, tão vazio como a própria
tribuna de honra. Sim, o herói tinha sumido.
As investigações intensificadas. A caladona Diana foi submetida a interrogatório, mas nada de
concreto puderam saber. Estações de estradas de ferro e aeroportos foram colocados de sobreaviso.
Escafandristas vasculharam lagos e rios próximos de Clarksville. O desaparecimento de Kit se
transformou um assunto de repercussão nacional, que ocupou as manchetes nos sete dias da semana. Um
dos maiores atletas da história dos esportes intercolegiais tinha simplesmente sumido na véspera da
maior homenagem que lhe era prestada. Em todos os jornais e lares da América o mistério era
comentado, esmiuçado e arguido. O passado de Kit era vasculhado, na esperança de se encontrar uma
pista. Bengala ficava distante, numa região longínqua. Os correspondentes naquelas bandas nunca tinham
ouvido falar dele nem de alguma família chamada Walker. Era realmente um mistério espetacular. A
metade das garotas da América estavam vidradas neste herói desportista, cuja foto enfeitava as paredes
dos seus quartos de dormir. Então, sumir e justamente numa época destas! Isto já era demais! Parecia até
que a terra o tinha tragado.
Diana manteve sua promessa a Kit e nada revelou. Mas o desespero de tia Bessie e de tio Efraim
fizeram com que uma noite ela se abrisse com eles.
— Se eu lhes disser alguma coisa a respeito de Kit, vocês me prometem que não vão dizer nada a
ninguém? — perguntou a eles. Ansiosos que estavam, prometeram. — Jurem então que preferem morrer

fulminados a revelar alguma coisa, — insistiu Diana, usando uma fórmula que aprendera em sua
meninince. Depois de prometerem solenemente, Diana começou: — Kit está bem. Ele foi embora. Vocês
podem muito bem imaginar onde ele está. — Os sorrisos dos tios regados pelas lágrimas recompensaram
Diana. Kit jamais teria imaginado isto.
A imprensa mundial perguntava onde estaria Kit Walker, intrigada pelo desaparecimento de um
ídolo nacional do esporte. Mas não havia nenhuma resposta. O interesse geral pelo caso finalmente foi
morrendo, mas permaneceu um mistério que a gente comentaria nos anos vindouros, como sendo um dos
célebres casos de desaparecimentos. De quando em vez um ou outro articulista de revista tornaria a
ventilar o assunto, trazendo ao público fotos do famoso atleta, reprisando a velha pergunta: 'Será que a
terra engoliu Kit Walker?"
Sim, a terra engoliu Kit Walker. Não haveria mais Kit Walker, porque ele se perdeu nas malhas de
um mistério.
 

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