segunda-feira, 30 de outubro de 2017

T2 N° 419 : A LENDA DO FANTASMA

1 - MEMÓRIAS DE UM MÉDICO 


O Dr. Axel vivia solitário num pequeno bangalô construído na entrada da selva. Certo dia acordou
com um toque suave em seu ombro. E o que ele viu aproximar-se, na claridade do luar, entrando pelas
janelas do quarto de dormir, deixou-o apavorado. Mas deixemos que ele nos conte com suas próprias
palavras como é que tudo aconteceu:
"Eis que vejo, ao redor da minha cama, quatro homens nanicos, em trajes de tangas e empunhando
lanças curtinhas. Embora antes nunca tivesse visto nenhum deles, imediatamente percebi quem eram: os
pigmeus de Bandar, com as pontas de suas armas envenenadas, que provocavam morte instantânea".
Fazia apenas dois anos que o Dr. Axel vivia na selva. Deixara sua terra natal no norte, abrindo mão
dos confortos e prazeres de sua moradia, para levar a moderna medicina aos habitantes da selva.
Sonhava com a construção de um pequeno hospital no coração da floresta virgem, um sonho que no
momento parecia uma utopia — e quem sabe se até mesmo no futuro — em face da carência de recursos.
Mas quando olhou, espavorido e com o medo arrepiando-lhe todo o corpo, para aquele bando de
homenzinhos de carantonha fechada que o encaravam em silêncio, sem dizer uma palavra, o Dr. Axel se
perguntou se depois deste momento teria ainda alguma chance de vida futura neste mundo de Deus. Por
que estavam eles ali? Teria ele quebrado algum tabu? A gente da cidade nunca tinha visto os pigmeus.
Mesmo os habitantes normais da selva raramente os viam. Os pigmeus envenenados — como eram
apelidados — eram temidos e evitados. Boatavam que viviam em algum lugar bem no coração da selva,
num local chamado Floresta Negra.
Deixemos, porém, que o Dr. Axel continue a sua narração. Nos próximos vinte e cinco anos ele não
se cansaria nunca de contar e recontar esta história, como uma das mais fantásticas experiências de sua
vida:
Seguiram-se momentos de silêncio que pareciam anos. Como puderam eles entrar em meu quarto de
dormir, sem se deixarem perceber? Mais tarde fiquei sabendo que se locomovem de mansinho, como
gatos. Só se percebiam a sua respiração suave e os seus olhos penetrantes dardejando sobre mim. Eu não
conhecia nenhum dialeto da selva, mas procurei dialogar com eles num inglês rudimentar, uma linguagem
muito comum nesta região.
— O que desejam? — perguntei eu, ou coisa parecida.
Pela expressão impassível dos seus rostos percebi que não haviam entendido patavina. Um deles,
contudo, tomou a palavra e disse taxativamente, apontando para uma janela:
— Acompanhe-nos!
Embora estivesse gelado de medo, senti-me aliviado. Pensei com meus botões: quem sabe se a gente
não vai conseguir entender-se?
— O que desejam vocês? Existe alguém doente? É por isso que vocês me procuraram?
— Acompanhe-nos! — repetiu o porta-voz do grupo.
— Sim, acompanhá-los; mas aonde? Por quê? Para quê? — repetia eu tolamente, percebendo que
não entendiam coisíssima alguma do que eu dizia. A esta altura todos eles deram um passo para frente,
aproximando-se mais de mim. O porta-voz apontou a sua lança, firmando a sua ponta mortífera a uma
distância de uns dois centímetros e meio da minha garganta.
— Acompanhe-nos! — disse ele categoricamente.
Com esta ordem peremptória não me fiz mais de rogado. Pulei da cama, vesti-me a toda pressa, sob
os olhares implacáveis dos visitantes que me fitavam firmemente sem mudar a expressão dos seus rostos
severos. Ia eu dirigindo-me para a porta, quando o pigmeu me disse, indicando-me a janela:
— É por aqui!

Apontou também para a minha maleta de médico. De qualquer forma, eles deviam saber do que se
tratava. Foi assim que saí pela janela para o luar lá fora.
Uma vez lá fora — continua o Dr. Axel — outros seis pigmeus saíram do capoeiral que havia em
redor e juntaram-se aos meus acompanhantes. E lá ia eu, cercado por um séquito de homenzinhos, cujas
cabeças não tocavam além da altura do meu tórax. Relancei pela última vez um olhar saudoso para o meu
pequeno rancho de cor branca. Será que tornaria a vê-lo? Eles se desviaram do rumo das poucas casas
que havia perto da minha e dentro de pouco estávamos no meio da selva. Puseram-se a andar num trote
ligeiro, que continuaram durante horas a fio, sem demonstrar cansaço e completamente mudos.
As reminiscências que o Dr. Axel guarda dessa viagem são fragmentárias, incompletas. Diz ele que
continuou trotando até que pôde. Depois, como que por um encanto, do macegal espesso surgiu um
pigmeu, puxando um cavalo pelas rédeas, encilhado com todos os arreios. O pigmeu parou e ficou
esperando. Mandaram que o Dr. Axel montasse o cavalo e os pigmeus iam correndo na frente, puxando o
cavalo pelas rédeas.
"Quantas e quantas vezes já me perguntaram se, estando eu à cavalo, não me passara pela cabeça a
ideia tentadora de safar-me dos meus sequestradores. Mas tal pensamento nunca passou pela minha
mente. Sabia perfeitamente que um arranhão de uma lança mortífera ou de uma flecha seria suficiente
para fazer meu cavalo tombar morto. Também não desconhecia que a selva por onde estávamos andando
naquele momento era infestada de felídeos enormes, leões, leopardos e panteras. Ali não faltavam
também tribos hostis e ferozes, algumas das quais tinham a fama de ser ávidos caçadores de cabeças e
canibais. Felizmente nada disto vimos. Era evidente que também os animais selvagens e os homens
ferozes da região temiam os velozes e mortalmente envenenados pigmeus".
A aurora despontou, o dia clareou, mais uma noite sobreveio, e sempre naquele andaço inflexível. O
Dr. Axel se lembra que lhe permitiram que descansasse algumas horas, quando lhe deram de comer nozes
e amoras silvestres que há na selva. Mas, depois deste ligeiro descanso, recomeçaram o trote firme.
Estava pasmado com a resistência física daqueles homenzinhos. Mas, por mil céus! aonde é que o
levavam? E por quê? Enveredaram por atalhos que pareciam dar no seio de uma selva espessa e
impenetrável. O Dr. Axel tinha pedido toda noção de direção e tempo; mas, quando os primeiros sinais
de uma nova aurora apareceram, ouviu o estrugir de uma cachoeira distante. Notou que pela primeira vez
os pigmeus se alvoroçaram. Suas fisionomias brilharam. Alguns realmente sorriam enquanto palestravam
entre si. Ao se aproximarem do ruído da cachoeira pararam. Vendaram então com segurança os olhos do
Dr. Axel, usando para isto folhas grossas e trepadeiras. Depois prosseguiram a viagem. Agora o eco da
cachoeira chegava aos ouvidos como um bramido. Sem que pudesse dar pela coisa, de sopetão o Dr.
Axel foi mergulhado dentro da cascata, sempre montado a cavalo. A água fria deixou-o encharcado, mas
até que a coisa era gostosa. Não podia sequer imaginar que estava penetrando os esconsos e secretos
umbrais da moradia dos pigmeus de Bandar — a Floresta Negra. Mas muitas e muitas surpresas havia
pela frente! Deixemos a palavra com o Dr. Axel.
"As águas estrugentes e troantes da cachoeira quase me cuspiram do cavalo. Saí de dentro dessa
cascata ensopado de água feito pinto, mas refrescado, com o corpo limpo de dois dias de poeira e sujeira
acumuladas na selva. Tocaram em minha perna, dando-me a entender que devia apear do cavalo. Desci e
os dedilhos de mãos nanicas me removeram a venda dos olhos. Meus senhores, devo confessar que o que
vi me deixou de olhos arregalados: foi uma visão e panorama fantásticos, de mil e uma noites!
Vi uma caverna imensa que se abria e penetrava num rochedo elevado. A entrada dela se parecia
com uma gigante caveira humana. Num lado, sobre um estrado, erguia-se um trono de pedras cravejado
de caveiras entalhadas e incrustadas na pedra. Um grupo de pigmeus olhava atento para mim. Deviam ser
uns cinquenta a cem anões. Um deles correu em disparada para dentro da caverna. Instantes depois um
homenzarrão assomou de dentro da furna. Era o mais fantástico e esquisito de todos. Vinha embuçado
numa máscara e vestia um traje bem colado ao corpo. Do cinto pendiam duas pistolas e um crânio. O

homem de máscara dirigiu-se a mim com passos largos. Era de estatura enorme, musculatura maciça;
enfim, um sujeito fisicamente bem cevado. Dirigiu-me a palavra, esboçando um sorriso que na verdade
deixava os dentes à mostra. — Dr. Axel, compreendo o seu espanto e lamento tudo isto; mas nós
precisávamos do senhor. Por favor, queira acompanhar-me! — Foram as únicas palavras que ele me
disse. Ele me conhecia, mas não declinou o seu nome.
Fui seguindo-o para dentro da enorme caverna. Pela minha frente desfilaram muitos aposentos. Vi
algo parecido com uma biblioteca, com enormes volumes dispostos em prateleiras; outro compartimento
tinha a aparência de uma cripta mortuária e, através de uma porta que estava entreaberta, pude ver aquilo
que me parecia ser um compartimento cheio de ouro brilhante e joias. Mas não tive tempo de examinar
tudo aquilo, porque meu hospedeiro mascarado levou-me rapidamente para outro aposento onde uma
linda senhora de cabelos louros e compridos jazia deitada numa cama ampla feita de peles de animais
amontoadas. Trajava um vestido comprido de veludo cor púrpura real, com joias brilhantes; diamantes,
rubis e esmeraldas pendiam do seu pescoço e cingiam-lhe também os braços e entremeavam-lhe os
cabelos louros. E mais ainda: estava prestes a dar à luz, talvez daí a uma ou duas horas.
— Apresento-lhe minha esposa — disse o homem de máscara. — Será que se sairá bem no parto? O
Sr. precisa de alguma coisa?
Apesar de sua estatura e aparente força, notava-se que estava nervoso. Depois de um rápido exame,
tranquilizei-o, dizendo-lhe que as condições da esposa pareciam normais e que se podia esperar um parto
sem complicações.
— Então quer dizer que foi esta a razão por que fui sequestrado e trazido às pressas por esta selva
adentro!? — perguntei eu quase irritado. Eu disse "quase", porque ele não era um indivíduo que aturasse
gritos. O senso de poder régio que transpirava dele era algo de espantar. Eu tinha a sensação de estar na
presença de um rei ou imperador. Quando fiz aquela pergunta o mascarado esboçou um sorriso. Não
conseguia ver-Ihe os olhos, devido à maneira como a máscara era feita. Sua voz cavernosa era suave,
mas imperiosa.
— Como está vendo, é o nosso primeiro filho. Dr. Axel, preciso ter um garotinho.
A esposa olhou para ele e sorriu.
— Dr. Axel, o Sr. pode me prometer que vai ser um homem? — perguntou a senhora com voz suave
e meiga. — Perdoe-nos, doutor — continuou a senhora — mas sou uma mocinha frágil que foi criada na
cidade. Não sou como estas mulheres robustas da selva, que podem dar à luz sozinhas na roça ou à
sombra de um pé de capoeira. Foi por isso que pedi que providenciassem um médico. Estava com medo.
Como sabe, é meu primeiro filho — e não sei se será homem ou mulher!
— É homem! — estrondeou uma voz cavernosa.
A doçura dessa encantadora senhora me deixou completamente desarmado e me venceu, de modo
que lhes perdoei tudo. Na minha cabeça fervilhava uma infinidade de perguntas. Quem era esta gente?
Por que andava ele com o rosto mascarado? Por que moravam neste lugar esquisito e misterioso? E como
é que se explicava a presença aqui desta "mocinha frágil que fora criada na cidade"? Mas agora o tempo
urgia e não era o momento propício para respostas. As dores do parto começaram rapidamente. As
esposas dos pigmeus entravam e saíam, correndo na caverna, procurando ajudar-me, carregando gamelas
com água quente e outros objetos indispensáveis para o parto. O marido mascarado andava impaciente de
cá para lá nos aposentos talhados na rocha como muitos maridos que estão para ficar papais. Do lado de
fora da caverna toda aquela gente anã estava sentada em grupos silenciosos, esperando.
Até que enfim a criança nasceu. — É homem — disse eu à jovem parturiente. Ele sorriu levemente.
— Doutor, deixe que eu dê a notícia a ele — pediu-me ela. O mascarado entrou todo afobado e
inclinou-se para ela.
— Mãe e filho estão passando bem — tranquilizei-o.
— Temos o homenzinho que queríamos — murmurou ela baixinho.

— KIT! prorrompeu o homem mascarado, agarrando e erguendo com suas mãos enormes o frágil
menino. "KIT!" ribombou a sua voz de trovão e, com a criança envolta nos primeiros cueiros,
encaminhou-se para a entrada da caverna onde levantou bem alto o delicado fardo para que todos
pudessem vê-lo. — É homem! gritou com toda força. Os pigmeus ergueram-se de um pulo. Perdendo o ar
misterioso e severo que vinham demonstrando com a expectativa, começaram a dançar, rir, pular e
cantar. Foi agora que vi que os temidos pigmeus de Bandar não passavam de uma gente encantadora o
adorável; gentis, encabulados e amistosos, quando se aglomeravam em redor da figura enorme e da
criança. Tempos depois fiquei sabendo que todos os primogênitos masculinos desta família estranha
recebiam o nome de Kit.
Já estava na hora de eu ir embora. Tinha todas as perguntas alinhavadas, mas tinha a certeza de que
aquele dia poucas respostas receberia.
— Os pigmeus de Bandar o escoltarão até a sua moradia — observou ele. — Gostaria que o Sr. não
contasse a ninguém esta aventura que viveu; mas, se abrir a boca para dizer alguma coisa, estou certo de
que ninguém lhe dará crédito — acrescentou ele, soltando uma risada. — Doutor, antes que parta, espere
um momento, por favor...
Estávamos ainda dentro da caverna, perto de uma porta entreaberta. Entrou. Dei apenas uma rápida
olhadela e vi que o compartimento parecia ser aquele com arcas cheias de ouro até à borda e com joias
cintilantes. Havia toneladas destas preciosidades. Voltou com um saquinho e, fechando a porta
imediatamente atrás de si, disse-me:
— Doutor, dou-lhe isto em recompensa de todo o trabalho que teve. Não tenho nenhum dinheiro, mas
sei que isto lhe será útil. — Abri o saquinho e despejei parte do seu conteúdo na palma de minha mão.
— Isto tudo é ouro fantasia? — perguntei, custando a acreditar naquilo que via.
— Não. É legítimo — respondeu ele sorrindo diante do meu espanto e admiração.
— Dr. Axel, agora o Sr. pode construir aquele hospital com que tanto sonha!
Os pigmeus que me haviam embrenhado por aquela selva adentro estavam esperando por mim.
— Temos que vendar-lhe de novo os olhos — disse o homem mascarado, num tom quase de quem
pede desculpas. — É para segurança sua e nossa também. É possível que um dia pessoas com intenções
criminosas queiram saber onde fica este lugar.
Assim, se o Sr. não sabe como vir até aqui, ninguém se prevalecerá de sua pessoa e também não o
forçará!
Naquele momento não atinei com o significado do que estava dizendo; mais tarde, porém,
compreendi tudo.
Quando nos apertamos as mãos em despedida ele fez algo que me pareceu estranho. Tinha um anel
pesado em cada uma das mãos. Ao segurar minha mão direita na sua, pressionou com força com a mão
esquerda o anel contra o meu punho. Deixou marcado em minha pele um sinal que se parecia com dois
sabres cruzados ou a letra P em forma de cruz. Nunca pude determinar com precisão este particular.
Levantei os olhos e encarei-o. Digo "levantei os olhos" porque, embora seja eu alto, a estatura dele
excedia a minha em aproximadamente vinte centímetros.
— É meu sinal! — disse ele sorrindo. — Todos os que o virem saberão que o Sr. é meu amigo e que
goza de minha proteção bem como seus filhos e os filhos dos seus filhos.
Algum dia isto pode ser de utilidade para si. — Eu estava surpreso e aturdido, externando meus
agradecimentos num verdadeiro engulho. "Proteção?" perguntei-me a mim mesmo. "Contra quem e
como?" Mas não tive coragem de lhe perguntar. Esfreguei o sinal e a impressão permanecia indelével.
— Tenho a impressão de que não vai sair... e nunca mais! — comentou ele. — Pense neste sinal
como um talismã que lhe dá boa sorte.
Eu tinha uma vontade louca de lhe fazer uma enxurrada de perguntas, mas naquele momento os
pigmeus se aproximaram de mim com uma venda nas mãos. Aventurei de relance um rápido olhar ao

derredor. Dei com uma aglomeração de pigmeus que observavam atentamente para dentro da caverna
misteriosa semelhante a uma caveira humana. Vendaram-me logo os olhos e ajudaram-me a montar o
cavalo.
— Antes que me vá, permita-me que lhe faça mais uma só pergunta: Pode dizer-me quem é você?
E a resposta que ouvi daquela voz cavernosa foi:
— As pessoas me conhecem por vários nomes. Alguns me chamam de Fantasma. Pois bem, adeus,
Dr. Axel, e até à vista.
Fantasma! Quando iam me conduzindo sob as águas atroantes da cascata sentia-me todo confuso. Nos
meus dois anos que já vivia nestas regiões de Bengala ouvira seu nome várias vezes cochichado por
empregados e casualmente percebia que este mesmo nome era mencionado por pacientes da selva que
vinham consultar-me. Chegara a perguntar-lhes a respeito desse nome, mas eles sempre saíam pela
tangente, mostrando-se reticentes e evasivos; o máximo que faziam era dar escassas e magras
informações a respeito. O que deles pude deduzir é que se tratava de uma entidade mitológica das selvas,
de um ser legendário que tinha a "força de dez tigres e a sabedoria dos sábios", conforme afirmou um
velho senhor. Tratava-se de uma entidade protetora que todos admiravam e cultuavam, que vivia há
séculos e mais séculos e que não morria nunca. Aliás, como é que o chamavam ainda? O Espírito-QueAnda.
Senti vontade de rasgar a venda, de voltar e ver novamente aquele homem mascarado e fazer-lhe as
perguntas que me queimavam cá por dentro e queriam explodir. Aquela mão que apertara era de pura
carne e osso e não etérea. Era a mão de um jovem senhor poderoso, majestoso nos primórdios de sua
virilidade. Mas havia alguma coisa mais — algo em seu porte régio, aquela sua voz cavernosa — alguma
coisa mais, um mistério. Quando virei a cabeça, fazendo menção de querer voltar, eis que me
precipitaram de novo nas águas ribombantes da cachoeira. Quando já me encontrava na outra margem,
comecei a pensar na fortuna de gemas que estava levando comigo e perguntei-me: Como sabia ele que eu
queria construir um hospital?"
Esta foi, em linhas gerais, a história do Dr. Axel. E os anos se sucederam. Ele construiu o seu
hospital — bateu longos papos com aquele Fantasma e muitas vezes ficava pasmado por ver que ele
estava a par de tudo. Nos portões de entrada do seu hospital construído em plena selva via-se gravado o
sinal do Fantasma, à vista de todos, significando com isto que aquela obra gozava da proteção dele
contra todo tipo de malfeitores. O que naquela ocasião o Dr. Axel não podia imaginar — se é que algum
dia chegou a descobrir — é que estava assistindo ao nascimento do vigésimo primeiro Fantasma,
chamado Kit — seguindo uma tradição observada por todos os primogênitos masculinos da linhagem dos
Fantasmas — e desta vez Kit "Walker", o Espírito-Que-Anda.
 

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